Johnny Depp entra no filme a fumar um cigarro eletrónico. É um turista acidental que está sentado num comboio rumo a Veneza e se cruza, de forma nada acidental, com Angelina Jolie, que também parte em busca de um misterioso namorado fora-da-lei. Depp é o anti-galã (credível) que faz um papel geralmente atribuído a Hugh Grant nas comédias românticas. No final do filme, o turista já desinibido e heróico, num processo inverso ao de Lucky Luke, substitui a geringonça por um cigarro a valer: arrisca a vida. Há muito tempo que não vinha de Hollywood um apelo tão explícito ao tabaco. Esse é, de longe, o único traço de ousadia que o filme apresenta.
Tudo o resto é um revisitar de clichés, acompanhados por um humor primário. Começando pelas figuras patéticas dos agentes secretos, completamente desajeitados, talvez evocando, mas ficando aquém, da comédia italiana dos anos 40. A forma como Veneza é filmada, sem acrescentar qualquer substrato às centenas de filmes que foram realizados na cidade. O filme acaba por se sustentar na tensão erótica criada por Angelina Jolie e, no fundo, é a combinação de Jolie e Johnny Depp, mais do que a história que poderá levar espetadores ao cinema. Até porque o filme usa um dos mais irritantes truques. A surpresa final é construída através de uma incongruência narrativa, que põe em causa a coerência geral do filme.