As sereias cantam como os Sigur Ros. Já desconfiávamos. A música etérea da banda só poderia vir de um sítio misterioso. Ou da Islândia ou do fundo do mar. Só não percebemos como é que aquela seria romena aprendeu a cantar em islandês. Mas não chega a ser uma incongruência. Os problemas de Ondine são outros. Mas comecemos pelas valias.
Neil Jordon costurou uma fábula. E fê-lo com suficiente engenho para nos manter na dúvida quase até ao final do filme, entre as duas dimensões: a realista e a fantástica. A história de uma sereia/mulher que é pescada nas redes de um pescador e que, quando canta, encanta peixes e homens. Há toda uma dimensão mítica que se constrói à volta desta figura incógnita, através de Annie, a personagem infantil, que, ao mesmo tempo que tem uma dimensão neo-realista, desenha, como é típico das crianças, um universo mágico. Nada disto é camuflado, aparece escarrapado no nomee das personagens: Ondiine e Syracuse.
Ondine é, acima de tudo, uma fábula infantil, com um elevado grau de ingenuidade não só na história, mas na forma como ela é narrada. À parte da dúvida entre as dimensões, não há espaço que grande subtilezas. Aliás, o filme está cheio de redundâncias e traços tão vincados que até aborrecem o público adulto. A história é contada e recontada até ficar requentada. E depois há um problema de credibilidade das personagens. A sereia romena é pouco romena. E Colin Farrell é um pescador demasiado lavadinho e bonitinho, custa-nos a acreditar que pesque alguma coisa… só mesmo sereias. Talvez os pescadores do mundo dos sonhos sejam mesmo assim.