É já um namoro sólido entre os alemães e os filmes da América Latina. No mesmo ano, 2009, deram o Urso de Ouro a uma jovem estreante peruana, Cláudia Llosa, com Teta Assustada, e o Leão de Prata ao estreante uruguaio Adián Biniez – e também o Grande Prémio do Júri, o Prémio Alfred Bauer e o Prémio para Melhor Primeiro Filme. Não há dúvida que O Gigante, encantou Berlim. E se a Teta Assustada estava cheio de reverberações do passado, derivações étnicas, apontamentos poéticos e oníricos, O Gigante é exactamente o oposto disto – está cheio de quotidiano, globalização, banalidade e de um universalismo inequívoco. Passa-se numa grande superfície em Montevideo? Está bem, poderia passar-se em qualquer lado do mundo. Tanto faz
O filme é o oposto do que o título e a própria personagem principal, um segurança matulão e corpolento, anunciam: uma pequena obra, com alguns bons momentos, sem nenhum encanto particular, a não ser talvez o da sua honestíssima simplicidade. A de contar uma pré-história de amor (do amor só lhe sabemos um prólogo), o de um responsável pela videovigilância de um hipermercado, que gosta de heavy-metal e de jogar palystation com o sobrinho e que um dia repara na empregada de limpeza. Torna-se assim, este gigante abrutalhado mas com bom coração (um cliché muito batido pelas cinematografias de todo mundo) uma espécie de anjo da guarda, à distância, nas alturas, desta mulher de quem sabemos o mínimo dos mínimos. E isso é que garante algum interesse ao filme. Vêmo-la sempre de relance, de passagem, de costas, nos ângulos difíceis das câmaras de vigilância. Parece uma rapariga banal. E no entanto ela é objecto de atenção constante do segurança tímido e solitário. Ele só a vê a ela. Nós só o vemos a ele. E o filme acaba onde justamente todos os outros começam.