E à 10.ª edição a Monstra descobriu… Portugal. Não é que o Festival não tenha, desde sempre, um amplo espaço dedicado às melhores animações portuguesas, com retrospectivas e mostras da produção recente. Mas desta vez, nem ingleses nem russos, a proposta no menu é devorarmos a animação portuguesa, desenho por desenho, sem cuspir os traços. Claro que a animação portuguesa não tem a mesma tradição da de outras escolas pelo mundo, como a inglesa, a checa, a húngara, a americana, a russa ou até mesmo a japonesa. Mas também por cá temos os nossos heróis. Recentemente, vários nomes se têm destacado. O maior feito da animação portuguesa foi o de A Suspeita, de José Miguel Ribeiro, que ganhou Cartoon d’Or, o mais importante prémio de cinema de animação europeu. Mas outros da mesma geração se têm destacado por cá e por lá, como Regina Pessoa, com História Trágica com Final Feliz; ou Pedro Serrazina, com A História do Gato e da Lua. E se quisermos ir à geração anterior são imperativos os trabalhos de Abi Feijó e Zepe. Imperativos para não utilizar a palavra “incontornável”, mas é assim que a organização chama àquela que é a mais importante das secções retrospectivas, que vai desde 1923 a 2000. Inclusive vai passar o primeiro filme de animação português, datado precisamente de 1923, O Pesadelo de António Maria, de Joaquim Guerreiro. Num trabalho de desenho sobre papel, num total de 145 imagens, o realizador faz um retrato mordaz de uma da emblemática figura da I República, e passa bem a propósito do primeiro centenário do 5 de Outubro. O filme que se segue, cronologicamente, é já de 1941: Boneco Rebelde, de Sérgio Luiz. Trata-se de uma animação feita a partir daquela que é uma figura de relevo da BD portuguesa. As primeiras aventuras de O Boneco Rebelde foram publicadas em 1939, no Papagaio, quando o seu autor tinha apenas 17 anos. Dois anos depois de ter convertido uma das histórias em filme, Sérgio Luiz faleceu, vítima de tuberculose.
De Servais Tiago, figura de proa da animação portuguesa, passam quatro filmes dos anos 60. Ao contrário de alguns dos seus contemporâneos, este desenhador descobriu a animação muito cedo, e logo aos 12 anos começou a fazer filmes, à parte de BD. No Monstra passam a série Espiões e Espias e o filme A Mosca. De Artur Correia, cineasta da mesma geração, são exibidos O Melhor da Rua e Eu Quero a Lua. Dos anos 70, o destaque vai para Ricardo Neto, António Piar e Mário Neves, grupo que trabalhou em conjunto.
Outra retrospectiva importante, para trabalhos mais recentes, é a do Prémio António Gaio, onde são apresentados filmes que receberam o galardão principal da competição nacional do Cinanima, nos últimos anos, a saber: História Trágica com Final Feliz, de Regina Pessoa; Januário e a Guerra, de André Ruivo; Mi Vida en tus manos, de Nuno Beato, e Cândido e Stuart, de Zepe.
As realizadoras têm direito a um programa especial, com filmes de Regina Pessoa, Cristina Teixeira, Isabel Aboim, Manuela Bacelar, Irina Calado, entre outras. Da secção ainda fazem parte ciclos dedicados a argumentistas, músicos, produtores, filmes a preto-e-branco e animação de volumes. É um panorama vastíssimo como nunca foi feito em Portugal.
Bill Plympton no Monstra
Bill Plympton, um dos mais célebres realizadores independentes de animação na actualidade, também conhecido como o mestre do humor truculento, é um dos convidados com particular realce durante o festival. Para além da retrospectiva à sua obra Sex Dogs and Violence, o vencedor do Grande Prémio da Secção Oficial de Cinema Fantástico – Fantasporto 2009 – irá dar uma aula (Master Class), a 16 de Março, às 14 e 30, sobre o processo de criação de um filme com poucos recursos financeiros. A organização do Monstra irá ainda promover outro tipo de “Master Classes” e “Workshops”, todos dinamizados pelos convidados, incluindo outros realizadores e produtores multi-premiados como Priit Pärn ou Normand Roger, entre outros. Desde o desenho e criação de movimento nas personagens, às formas de contar a história ou até ao desenvolvimento de sons para este tipo de cinematografia, as actividades abordarão todo o tipo de peculiaridades dos filmes de animação.
As inscrições devem ser feitas atempadamente pelo valor de 20 euros para as Master Classes e 40 para os Workshops, estas últimas limitadas a 20 participantes. Os estudantes têm 50% de desconto.
Ao longo da 10.ª edição do festival Monstra, serão realizadas homenagens a realizadores e aos países convidados ao longo da década, através de uma retrospectiva aos seus melhores filmes. A revisita, no Cinema São Jorge, inicia-se com a Polónia, dia 12, às 17; segue-se a República Checa com destaque para Karel Zeman 100 anos, a 13, às 15 e 30; a França, a 14, com duas sessões, às 17 e às 22 e 45; e sempre às 17, a Rússia, a 15, a Inglaterra, a 16, Finlândia, a 17, o Brasil, a 18, a Suíça, a 19. A não esquecer a retrospectiva Priit Pärn, The Soviet Pärn, a 15, às 19, e a 20, às 19 (São Jorge); Michaela Pavlátová, a 16, às 19, no São Jorge, e a 19, às 18, na Fnac Chiado; Sex, Dogs and Violence, de Bill Plympton, na Fnac Chiado, a 16, às 18h00, e no São Jorge no dia 17, às 19; retrospectiva Marcy Page, a 18, às 19 (São Jorge); Normand Roger, a 19, às 19 (São Jorge).
Transversalidades e Monstrinha
Para assinalar o décimo aniversário, o Monstra preparou um projecto muito especial. Aedificandi é um filme realizado exclusivamente por artistas exteriores ao mundo da animação, em regime pós-laboral, com a coordenação de Sandra Ramos e Fernando Galrito, o director do festival. No total participaram cinco arquitectos e um músico, com o objectivo de celebrar o cinema de animação como síntese de todas as artes.
Várias exposições decorrem durante o festival, o Museu da Marioneta recebe Desassossego, com material usado no filme homónimo de Lorenzo Degl’Innocenti, bem como Um Mundo em Miniatura, com cenários e marionetas de Conflictivos Productions.
De forma alternada o Monstra recebe a concurso curtas e longas-metragens. 2010 é um ano de curtas, com um total de 60 filmes, produzidos nos últimos dois anos. Entre os quais, alguns portugueses, como Algo Importante, de João Fazenda; Cândido, de Zepe; Passeio de Domingo, de José Miguel Ribeiro; Pássaros, de Filipe Abranches; ou R-HYZ, de Joana Toste. À parte funciona uma outra secção competitiva, vocacionada exclusivamente para filmes de escolas.
O festival conta com uma secção paralela – a Monstrinha – com 38 filmes de animação no Cinema S. Jorge, Museu da Etnologia, Teatro Meridional e Cinema City Alvalade, em sessões grátis destinadas a crianças dos 3 aos 6, 7 aos 12, e maiores de 13 anos.
Da programação fazem parte obras das cinematografias russa, francesa, suíça entre outros, com particular destaque para a portuguesa, com Eu Quero ser…Astronauta, de Ricardo Blanco, e Pássaros, de Filipe Abranches.
Há sessões “para escolas” e “pais e filhos”. Estas últimas, abertas ao público em geral, realizam-se ao fim de semana (13, 14 e 20 de Março), às 11, no S. Jorge; às 10 e 30 e 17, no City Alvalade; e às 14 e 30, para o Museu da Etnologia. No Domingo, 14, às 15 e 30 no São Jorge irá ocorrer uma sessão especial de filmes portugueses, com Hissis, Nuno Beato; Zé dos Pássaros, Paulo Sousa e Silvio Rodrigues; Caldo da Pedra, Artur Correia e Ricardo Neto; O Banquete da Rainha, José Miguel Ribeiro e A História do Caramelo, Pedro Mota Teixeira.
Tal como nas edições passadas, a organização publica os Cadernos da Monstrinha, para que professores e alunos possam aprender várias técnicas de animação bem como discutir sobre temáticas abordadas nos filmes.