Um desastre nunca vem só. Depois do terramoto de 2011, que provocou uma fuga radioativa na central de Fukushima (o pior incidente do género desde Chernobil, em 1986), o governo japonês decidiu acabar com a produção de eletricidade a partir da energia nuclear. O problema é que está a substituí-la por centrais a carvão, o que vai causar um aumento gigantesco de emissões de gases com efeito de estufa, minando os esforços internacionais para combater as alterações climáticas.
Nos próximos cinco anos, vão ser construídas 22 novas termoelétricas, que emitirão anualmente mais de 80 milhões de toneladas de dióxido de carbono – como termo de comparação, diga-se que Portugal emite pouco mais de 50 milhões de toneladas por ano.
Pelo Acordo de Paris, o país comprometera-se a reduzir as suas emissões em 26% até 2030 (em relação a 2013). O objetivo já era considerado pobre, mas a nova estratégia energética do governo quase certamente garante que nem essa meta será atingida.
Analistas garantem que será impossível ao Japão cumprir o Acordo de Paris sem reabrir as suas centrais nucleares (a energia nuclear não emite gases com efeito de estufa). As emissões, aliás, não param de subir desde o terramoto de 2011, que danificou três reatores nucleares. Em 2016, os combustíveis fósseis já produziam 84% da eletricidade; antes do sismo, era 65%.
Além do desaire ambiental que constitui a aposta no carvão, é certo que as centrais causarão muitas mortes. Um estudo de três universidades americanas (Berkeley, Santa Bárbara e Carnegie Melon) estima que morram 1 100 pessoas por ano na Alemanha devido ao acréscimo de poluição por partículas e dióxido de enxofre provocado pelo aumento da queima de carvão – a Alemanha também optou por começar a fechar as suas centrais nucleares, depois do exemplo de Fukushima, o que já levou a uma subida de 5% nas suas emissões de dióxido de carbono, ou mais 36 milhões de toneladas.
Oficialmente, morreu “apenas” uma pessoa, um trabalhador da central, na sequência da radiação libertada em Fukushima.