Pode ser um aviso do que aí vem: um aumento temporário da temperatura das águas terá causado a morte a cerca de um milhão de aves marinhas, da espécie Uria aalge. É essa a conclusão de um estudo publicado esta semana na revista científica Plos One.
Investigadores da Universidade de Washington e da US Geological Survey analisaram o aparecimento de 62 mil aves mortas que deram à costa entre maio de 2015 e abril de 2016 na costa da América do Norte e, levando em conta a percentagem destes animais mortos que efetivamente acabam por dar à costa, estimaram que a mortandade tenha atingido um milhão de animais.
A morte e as falhas na reprodução desta espécie acontecem esporadicamente, mas os investigadores escrevem que a magnitude, duração e extensão espacial deste evento “não tem precedentes e é surpreendente”. E explicam a catástrofe ecológica com o aumento da temperatura do Pacífico, junto à costa. “Estes eventos ocorreram em simultâneo com a maior onda de calor alguma vez registada, que persistiu durante 2014-2016, e que criou um enorme volume de água ocêanica, da Califórnia ao Alasca, com temperaturas que excederam a média”. As águas 3 a 6 graus mais quentes levaram a uma redução do fitoplâncton, que por sua vez levou a alterações das colónias de zooplâncton, o alimento de peixes. Por sua vez, as populações destes peixes sofreram alterações profundas e as aves que se alimentavam deles ficaram sem alimento; muitas acabaram então por morrer de fome.
O aumento extraordinário da temperatura naquela zona do Pacífico, que começou em finais de 2013, devido a um El Niño forte, fez também vítimas entre espécies de mamíferos: há indícios de altas taxas de mortalidade entre leões-marinhos e algumas baleias. É expectável que o aquecimento global, e o consequente aumento da temperatura média das águas e de ondas de calor, torne este fenómeno mais frequente e extremo.