Enquanto muitas pessoas aceitam o uso de máscara como uma medida necessária ao combate à pandemia, outros – embora uma minoria – vêm nela uma limitação aos seus direitos.
Uma equipa de investigadores está dedicada a explorar o papel que os media têm na opinião do público britânico a respeito do uso de máscaras, e partilhou no The Conversation três possíveis motivos para a controvérsia em torno do uso das máscaras.
São evocados os exemplos da epidemia da gripe de 1918, o Blitz de 1941 e o smog entre 1930 e 1960, no Reino Unido. Em todas essas ocasiões, o uso de máscaras foi aconselhado pelas autoridades para proteger a população contra infeções ou condições atmosféricas adversas – mas não era contestado como é hoje.
Visibilidade das crises anteriores. Um primeiro argumento avançado pelos investigadores é o de que as crises de saúde pública anteriores eram mais “visíveis” – durante os períodos mais intensos de smog, ou os bombardeamentos de Londres e outras cidades pelas forças militares alemãs, o fumo e pó no ar eram visíveis e compeliam as pessoas a utilizar a máscara facial para se protegerem.
No caso da epidemia da “gripe espanhola”, ou influenza, por exemplo, argumentam ainda que os seus efeitos eram mais visíveis e evidentes do que os da Covid-19. Com a Covid-19, apesar de conhecermos a gravidade do vírus, os seus efeitos mais graves não são vistos publicamente, ocorrendo em casa ou nos hospitais, longe do olhar das pessoas, escrevem. Muitas pessoas desvalorizaram os efeitos da doença alegando que só afetaria gravemente pessoas muito idosas ou já gravemente doentes. A gripe, por outro lado, “apesar dos seus sintomas serem muito semelhantes aos da Covid-19, tinha características visualmente mais públicas (tais como vómitos e diarreia) que lhe permitiam resistir ao cepticismo público”.
Estes fatores podem ter contribuído para tornar as crises anteriores mais ameaçadoras e perigosas aos olhos do público, fazendo com que aceitassem mais facilmente a imposição das máscaras faciais.
Influência dos media. Antes, o meio de comunicação predominante para transmitir mensagens às massas era a televisão (além da imprensa e da rádio). Muitos meios eram controlados ou influenciados pelas autoridades no poder, que se encarregavam de retratar o uso de máscara como positivo e necessário.
Hoje em dia a Internet, redes sociais e outros canais mais personalizados permitem a veiculação de todo o tipo de informação, de forma descentralizada e que pode ser consumida por qualquer pessoa. E, coincidentemente, é na Internet, e em especial nas redes sociais, que se encontra muito do discurso anti-máscaras (e negacionista da pandemia no geral). Um estudo de abril, por exemplo, demonstra que os media desempenharam um papel importante na polarização dos sentimentos da população em relação ao uso de máscara.
Imagem das máscaras cirúrgicas e a sua imposição. Os investigadores concluíram ainda que, na maioria das mensagens veiculadas pelos meios de comunicação que promovem o uso de máscaras, a imagem mais comum é a das máscaras cirúrgicas. No início da pandemia, até foram desaconselhadas as máscaras comunitárias em função das máscaras cirúrgicas, que se provou serem mais eficazes.
No entanto, em crises anteriores estas regras não eram tão severas, e outros tipos de máscaras faciais eram mais amplamente tolerados. Os investigadores arguem que esta imposição quanto ao tipo de máscara facial a usar pode também criar sentimentos de oposição e resistência.