É uma boa notícia e pode interferir na tomada de decisão do Governo sobre a data e o plano de desconfinamento, que António Costa apresenta ao País dia 11, podendo mesmo permitir antecipar algumas medidas. O número de doentes internados nas Unidades de Cuidados Intensivos (UCI) está a diminuir a um ritmo maior do que o inicialmente estimado pelos peritos. Neste momento já se baixou da fasquia dos 400 e tanto os dados do especialistas do Instituto Nacional de Saúde Dr Ricardo Jorge (INSA) como os dos investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa revelam que os hospitais vão conseguir chegar a menos de 200 camas com doentes Covid antes da data que estava prevista.
Segundo o relatório do INSA, de terça-feira, dia 3 março, a queda dos doentes em UCI situa-se numa taxa de menos 10 camas por dia, apontando-se que dia 16 estarão 245 doentes. Alargando as estimativas, dia 20 de março estarão, assim, menos de 200 pessoas nas UCI. Valores bem mais positivos do que os previstos no relatório anterior do INSA e do que aqueles que tinham sido anunciados pelo próprio presidente da Sociedade Portuguesa de Cuidados Intensivos.
João Gouveia tinha vindo a avisar que só dia 24 de março se conseguiria descer para 242 doentes em UCI – o número máximo de camas que podem ser ocupadas, explicou, para se possa desconfinar e manter os serviços hospitalares a funcionar com segurança. Este número máximo de intensivos corresponde a 85% das camas que vão ficar destinadas a doentes Covid. As restantes terão de ficar para os doentes com variados problemas, e outras camas ainda vão ter de regressar à sua função inicial, pois pertencem aos blocos operatórios e às salas de recobros ou de anestesia . Além disso, muitos profissionais que têm estado a ajudar a tratar doentes Covid têm de retomar a atividade e voltar aos seus serviços.
No entanto, o próprio presidente da Sociedade Portuguesa de Cuidados Intensivos. confirma à VISÃO este novo cenário mais animador, admitindo que a descida do número de doentes em UCI está a ser mais rápida do que o esperado. Apesar de explicar que não tem ainda “novas previsões”, assegura que, neste momento, é quase certo que o valor de segurança seja atingido mais cedo do que no dia 24.
Mas se as projeções do INSA são boas notícias, as dos investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, entre eles o epidemiologista Manuel Carmo Gomes e o matemático Carlos Antunes, são ainda mais positivas: os cálculos apontam agora para que entre os dias 15 e 18 de março se desça aos 200 doentes com Covid-19 em UCI . Isto porque, de acordo com a análises e os modelos matemáticos usados pelos investigadores desta Faculdade, a taxa de redução diária de internamentos em UCI está nos 3,9 por cento.
Esta descida a pique dos doentes em UCI está relacionada com a queda abrupta da incidência. Neste momento, Portugal tem uma incidência de 142 por 100 mil habitantes. Menos do que sucede em Inglaterra onde esse mesmo valor se situa nos 181 casos por 100 mil. Ao diminuir a incidência, o número de doentes a entrar nos hospitais e as mortes caem automaticamente.
Este dado das UCI é importante para a definição das linhas vermelhas, ou seja, datas em que Portugal pode desconfinar ou terá de confinar de novo . O documento com os critérios a usar para essas linhas está a ser elaborado por um grupo que inclui elementos da Direção-Geral de Saúde e alguns consultores, como Manuel Carmo Gomes, Carlos Antunes e ainda o matemático da Faculdade do Porto Óscar Felgueiras. A VISÃO sabe que o documento com o modelo que define as linhas vermelhas para o desconfinamento, pedidas pelo primeiro-ministro há quase um mês, ainda não está totalmente concluído. Mas é certo que entre os critérios principais para o desconfinamento estarão a incidência por 100 mil habitantes, o Rt (índice de transmissão) e o número de doentes em UCI.