O Pedro Camacho, que agora tão prematuramente partiu, foi um exemplo de jornalista sério, competente, independente. Tão dedicado como discreto. Com princípios e sem prosápias. Que além de respeitar os outros, procurava ouvir e compreender os outros. Sabendo que informação é uma coisa que não tem nada a ver com ânsia de protagonismo e procura de vendas ou audiências a qualquer preço. Características e qualidades infelizmente não comuns a todos os profissionais da informação que como ele se distinguiram e ocuparam posições de relevo na imprensa portuguesa. Características e qualidades próprias da pessoa que se distinguia pela “decência”, pelo bom senso, pelo equilíbrio sem oportunismos e pela solidariedade sem alardes.
Antes de vir para a Visão, o Pedro foi redator/editor de Economia do Diário de Notícias primeiro e do Público a seguir, neste passando depois a integrar a direção, como subdiretor. Não sendo área da minha especialidade, o que sempre lera dele tinha-o como bem fundamentado e bem escrito, constituindo boas peças jornalísticas. Ou seja: dava objetivamente os factos e os números, interpretava e explicava o necessário para o leitor saber, compreender, e se fosse caso disso formar o seu juízo.
Conhecia a sua mãe e o seu pai, ambos também jornalistas: ele o Rui Camacho, ela a Helena Marques – que havia de se revelar escritora com um livro, O último cais, que ganhou os principais prémios literários para romance no ano em que foi publicado, 1992 – e que morreu, igualmente de Covid, a 19 de outubro.
Não conhecia o Pedro. Até que, numa qualquer viagem presidencial em que fomos os dois, eu não sei se como jornalista se como convidado do Presidente, o conheci e vi, a acrescer ao que ficou dito sobre o seu trabalho profissional, era uma pessoa de muito bom trato e relacionamento, afável, simpático, inteligente.
Não muito tempo decorrido, em final de 2000, foi decidido que a Visão passaria a ter dois diretores-adjuntos. Um deles seria, por escolha exclusiva do Cáceres (Monteiro), o diretor, alguém de dentro, a Cláudia Lobo, editora-chefe da revista, o outro viria de fora. Justificando-se, parecia-me, que fosse alguém da área da Economia. Por isto, mas muito também pelo que, bem ou mal, concluíra daquele contacto, sugeri ou propus o Pedro Camacho. Que, convidado, após uma breve reflexão, aceitou.
Estávamos no início de 2001. O Pedro correspondeu às expectativas. E em 2005 substituiu o Cáceres, querido amigo e camarada, gravemente doente, com o cancro que o vitimaria. O Pedro foi diretor desta revista entre 2005 e 2015 – e, a partir de certa altura, quando se generalizou a “importação” desse modelo ou dessa figura, também publisher do grupo Impresa.
Desse tempo todo, há muitas histórias para contar… Mas para o que aqui importa, em particular neste momento, é que o Pedro Camacho sempre desempenhou as suas funções com a seriedade, a competência, a independência e as outras qualidades que comecei por sublinhar. Mantendo, e a seu modo tentando estimular, o que desde o princípio da Visão quisemos e na minha ótica é sempre muito importante nos media, pelo menos quando têm a dimensão dos portugueses: um clima de empenhamento tranquilo, boa camaradagem, relacionamento cordial, sem conflitos nem berros (o Pedro nem “baixo” gritava…), propiciando um fundamental espírito de cooperação e equipa.
É muito triste e muito injusto um jornalista e homem bom como o Pedro Camacho, morrer assim, numa cama de hospital, após semanas de sofrimento, aos 59 anos. E nem é grande consolo dizer que não o esqueceremos e terá sempre um lugar na história da Visão.
