Os centros comerciais, a braços com uma profunda crise provocada pela pandemia, ganharam um aliado que pode ajudar a esbater as suas quebras no consumo: a criação de áreas específicas para “cowork”. Integrado na lógica de prolongar a permanência dos visitantes nos espaços comerciais, complementado com a consolidação do teletrabalho, o coworking vai começar a marcar a sua presença de uma forma mais evidente em contexto de retalho. Esta é uma das tendências a que iremos assistir em Portugal nos tempos mais próximos, de acordo com o mais recente estudo da BPrime.
Mas não só. A aposta das autarquias neste tipo de equipamentos será outra das novidades a acontecer a curto e médio prazo neste mercado para o qual foram recentemente criados programas estatais financiados por fundos europeus, através do FEDER, para a criação deste tipo de espaços no interior do país, num investimento que ultrapassa os 20 milhões de euros.
“O conceito de coworking veio para ficar. Inicialmente havia uma ideia preconcebida que esta solução era adequada, apenas para start-ups e freelancers, mas devido à expansão deste segmento de negócio, podemos concluir que se está a consolidar em todos os mercados”, realça à Visão Jorge Bota, diretor-geral da BPrime, que lança o primeiro estudo temático de muitos que a consultora vai desenvolver para o mercado de investimento imobiliário. Este estudo direcionado para o setor do cowork realça ainda que dentro de dois anos são esperados 5,1 milhões de utilizadores destes espaços.
O controlo assertivo dos custos e uma maior flexibilidade são trunfos deste conceito que já tinha dado provas de sucesso em outros surtos pandémicos, outra realidade que a BPrime estudou através de entrevistas a operadores internacionais que estão presentes em Portugal.
“Com esta iniciativa pretendemos aferir o impacto que este surto de Covid- 19 teve nos respetivos negócios. Foram unânimes em destacar, que no imediato, tinham registado uma quebra nas taxas de ocupação, mas no médio prazo consideram que haverá uma recuperação, até pela experiência que tiveram no Oriente, com a epidemia da SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave), entre 2002 e 2004. Os entrevistados consideram que os ajustamentos, levados a cabo naquela altura pela China e pelo Japão, serão implementados na Europa, tanto nos centros de escritórios, como em espaços de coworking”, reflete-se no estudo.
Na epidemia de SARS que se prolongou por longos dois anos, as empresas foram forçadas a procurar espaços seguros, para colocar colaboradores de áreas estratégicas e membros da direção, de modo a respeitar o distanciamento social e manter o ciclo produtivo das operações. Uma necessidade que foi encontrada nos espaços de coworking que permitiram assim uma utilização menos intensiva dos escritórios.
Outra tendência que se vai consolidar será o “corpoworking”, uma abreviatura do “Corporate Coworking”, diz ainda Jorge Bota.
Operadores de coworking a nível mundial confirmam ter vários clientes corporativos nos seus espaços e nalguns casos, esta presença representa 1/3 de área ocupada. Entre os exemplos mais mediáticos de clientes corporativos encontram-se por exemplo a IBM, a UBS e o Facebook.
De acordo com um estudo elaborado pela universidade de Michigan, as razões pelas quais um cliente corporativo escolhe um espaço de cowork são as mesmas dos particulares – desejam interação com outros, novas oportunidades e troca de conhecimentos, explica-se no estudo.
Há dois tipos de Corporate coworking, um dos quais intitulado de Open Houses, onde podem encontrar-se escritórios com várias tipologias que satisfazem diferentes necessidades. Estes espaços são uma combinação de coworking, coffeehouse, áreas de start-ups e de retalho, que proporcionam uma oferta alargada. A cidade de Lisboa tem vários exemplos, nomeadamente o Santander na zona das Amoreiras e a Auchan na Avenida da República, exemplifica o responsável.
Há ainda outro formato, o coworking campus, um modelo temporário e muito direcionado para processos criativos e para testagem de produtos.
Lisboa e Porto possuem, em conjunto, mais de centena de meia de centros de coworking (ver caixa) com capacidade para acolher cerca de 14 mil profissionais.
Cerca de 150 espaços em Lisboa e no Porto
Há atualmente 115 espaços de cowork em Lisboa (incluindo Cascais, Setúbal, Sintra) e 37 espaços de cowork no Porto, contabilizou a consultora BPrime no seu estudo, lembrando que o ano em que houve uma maior abertura de espaços de cowork nas duas cidades foi em 2018.
A Zona 1 (Prime CBD – eixo Avenida da Liberdade, Saldanha), a Zona 2 (CBD – eixo Amoreiras/ Avenidas Novas) e a Zona 4 (Santos/Terreiro do Paço) são as localizações que mais concentram espaços de cowork, em Lisboa. Dos 115 centros registados, 32 estão mais afastados do centro da cidade, nomeadamente em Oeiras, Cascais, Estoril, Setúbal, Sintra, Carcavelos, Marvila e Alta de Lisboa (zonas de Lisboa, mas que estão classificadas, como Restante Oferta).
A Baixa do Porto (Zona 2) é uma das zonas que concentra um maior número de escritórios, em coworking, na cidade. Mas os arredores estão a atrair um número crescente de espaços, uma dinâmica justificada pela extensão das linhas do metro.
Os preços mensais praticados para quem opta pela modalidade de ‘secretária flexível’ variam entre os 100€ e os 250€ nos centros de cowork da capital e os 55 e os 120€ no Porto.