Quando uma equipa de repórteres da VISÃO saía em reportagem, era o Luís que tratava do aluguer do carro. Burocracia resolvida, o Luís dirigia-se ao jornalista e, não raras vezes, à chegada da dita viatura, acrescentava um comentário cheio de humor: “O teu Porsche amarelo à Futre está cá amanhã de manhã”.
Era assim o Luís Pinto, que integrava a nossa equipa desde a fundação da revista. Sentido de humor nunca lhe faltava, tinha simpatia e cordialidade em doses suficientes para espalhar por toda a Redação. Se há talento que o Luís tinha era o da tirada repentina. Sem nunca precisar, diga-se em abono da verdade, de recorrer ao vernáculo (ainda hoje tão frequente nas Redações…) para que a graça surtisse efeito. Certeiro, o Luís era capaz de quebrar o gelo nas situações difíceis, de pôr meio-mundo a rir (inesquecível, a sua gargalhada).
Nascido há 52 anos em Carvalhais, uma aldeia do concelho de São Pedro do Sul, era sempre dos primeiros a chegar à Redação, distribuindo os jornais (as edições em papel, pois) logo pela manhã. Começou a trabalhar aos 16 anos, no grupo da Projornal, a sociedade de jornalistas que criou o semanário O Jornal cuja equipa viria, mais tarde, em 1993, a fundar a VISÃO. José Carlos de Vasconcelos, um dos fundadores de O Jornal e atual diretor do Jornal de Letras, Artes e Ideias, recorda o “miúdo” que então chegou às instalações do grupo, na Avenida da Liberdade, em Lisboa: “Fazia serviço do que ao tempo se chamava ‘paquete’. Depois, foi progredindo, com tarefas de maior dificuldade e responsabilidade, ligadas à edição/produção. Manteve-se simpático e disponível, mas sempre cada vez mais atento, competente e de uma dedicação exemplar.”
Na Redação da VISÃO, os amigos mais próximos recordam infinitas histórias que exemplificam o seu fino humor. Quando entrava num café, fora da hora de maior expediente, e não estava ninguém ao balcão, gostava de replicar uma piada muito usada por um jornalista da velha guarda. Elevava a voz e perguntava: “Por amor de Deus, estão abertos?!”. Dos tempos em que trabalhou no semanário Se7e, ainda na Projornal, ficou-lhe também a alcunha de “Soldado Luís”, posta pelos jornalistas Viriato Teles e António Macedo, numa clara referência ao golpe de 11 de março de 1975, no RALIS, e que originou uma única vítima que ficou para a História com esse nome.
Adepto ferrenho do Futebol Clube do Porto, o “miúdo” (na Redação, os mais antigos ainda o tratavam assim) sofria a sério com os desaires da sua equipa, embora também fosse capaz de reconhecer a justiça de uma derrota do seu clube e os feitos dos seus rivais lisboetas. Vibrava com as discussões futebolísticas nos cafés ao pé de sua casa, na zona de Benfica. E ninguém como ele apanhava os comentários dos adeptos mais desatinados. Participava na equipa de futebol da VISÃO, entrando nos jogos para, generosamente, continuar a espalhar o seu bom humor. Humilde e discreto, sobre si próprio, repetia muitas vezes: “Sou o filho mais novo da Laurentina”. E agora, Luís, que já cá não estás, temos de nos rir sem ti?