Fazem parte do ‘cenário’ de muitas localidades portuguesas mas apesar da presença impactante, a maioria dos silos da extinta Empresa Pública de Abastecimento de Cereais (EPAC) está em estado devoluto, desde que o armazenamento de cereais em larga escala caíu em desuso.
Mas há exceções. Em Bragança, o projeto do Museu da Língua Portuguesa deu finalmente mais um passo esta semana ao ser aprovado em reunião de câmara o lançamento do concurso para construção do equipamento cultural que vai custar 10 milhões de euros. Em novembro já se saberá qual a empresa que vai avançar com a obra, estando previsto um prazo de 18 meses até à sua conclusão.
“É um prazo bastante ambicioso mas esperamos que o museu esteja concluído em abril 2022. Este museu – que é único em Portugal, só existe outro do género no Brasil – vai ter um impacto cultural e económico muito significativo para a cidade e para toda a região. Um estudo recente que encomendámos aponta para um impacto na ordem dos 3,3 milhões de euros”, realçou à Visão o presidente da Câmara de Bragança, Hernâni Dias, acrescentando que o objetivo será “atrair turistas nacionais, turistas falantes da língua portuguesa e também os não falantes.
O projeto de arquitetura do antigo silo, que está há mais de duas décadas sem qualquer utilização, está a cargo de Joaquim Portela Arquitetos, ateliê com sede no Porto. Para a sua conceção, o arquiteto quis preservar a memória do edifício, mantendo o exterior intocado na sua configuração, dando vida nova ao interior onde se espera criar novas centralidades.
“É um edifício de grande imponência, impossível de não se ver assim que se chega a Bragança. O objetivo agora é criar um equipamento que possa ser desfrutado não só por quem vai visitar o museu mas pela população local”, explica Joaquim Portela.
Uma área generosa de 6.000 m2 irá acolher um total de nove pisos – dois destinam-se à exposição permanente, um para as temporárias, outro para o auditório, reservando-se um andar para a biblioteca (com capacidade para 24 lugares) e um piso para a receção do museu e uma cafetaria, sendo os restantes para zonas técnicas. “Todo o piso zero vai ser de apoio ao museu e à cidade e quem visitar o edifício, mesmo que não vá às exposições, poderá ter acesso ao último andar onde vai ficar a biblioteca e zona exterior onde é possível ter uma vista 360 graus sobre Bragança. Na biblioteca quisemos assegurar condições para que se possa fazer investigação com outros museus ou espaços de fomento da língua portuguesa pois o mais importante é a conectividade que se vai criar com vários pontos do mundo ”, especifica ainda o arquiteto, lamentando que uma boa parte deste património industrial presente em todo o território nacional esteja descurado apesar do seu enorme potencial.
Para tornar completa a experiência sensorial de desfrutar não só as exposições mas também o espaço onde estas se vão integrar, o arquiteto optou por não rasgar janelas no edifício, criando, porém, dinâmicas espaciais para assegurar a fluidez dos movimentos. “Quem vem ao museu não perde nunca a perceção de estar dentro de um silo, isso é assumido. Mas queríamos evitar a sensação de claustrofobia e isso foi conseguido criando-se uma área contínua e com acessos por todos os lados”, sublinha ainda Joaquim Portela.
O investimento de 10 milhões de euros para pôr de pé o projeto conta com 40% de financiamento comunitário e os restantes 60% por parte da autarquia. “Mas não deixaremos de bater a muitas portas para arranjar mecenas quer na vertente financeira quer na cultural. Queremos acima de tudo mostrar que Bragança pode ter uma baixa densidade populacional mas tem uma grande densidade cultural”, rematou ainda o presidente da câmara Hernâni Dias.
O estudo encomendado pela autarquia dá conta de um número médio de visitantes na ordem dos 40.000 por ano.