Mais uma semana, mais quase três milhões de americanos que fizeram pedidos de subsídios de desemprego. Desde o início do Grande Confinamento, nos EUA houve já 36,5 milhões de pessoas a pedir os apoios para quem fica sem trabalho. Os números mais recentes, divulgados esta quinta-feira, 14 de maio, até mostram um abrandamento no número de pessoas que solicitaram aqueles subsídios. Mas os dados estão longe de aliviar as preocupações dos economistas, já que ainda são incomparavelmente mais altos do que as crises que se seguiram à Grande Depressão nos anos 1930.
“Os pedidos de subsídio de desemprego na semana terminada a 9 de maio não abrandaram tão rápido como o esperado”, observa James Knightley, economista do ING, numa nota a investidores. Havia alguma esperança que o desconfinamento gradual da maior economia do mundo pudesse ajudar a alguns sinais menos negativos sobre o mercado de trabalho. Mas tal ainda não se verificou.
Em abril, a taxa de desemprego nos EUA disparou para 14,7%, um valor que não era visto desde a Grande Depressão do início da década de 1930. As previsões são de que aquele valor continue a escalar. “Pensamos que pode aumentar para entre 22% a 23% e, já que um terço dos americanos em idade ativa (estudantes, pessoas que se reforma antecipadamente, doentes, com ocupações domésticas e cuidadores não está incluído nos números da força de trabalho, teremos menos de metade das pessoas entre 16 a 65 anos a ter um salário este mês”, antevê James Knightley.
A esperança dos analistas é que com a reabertura da economia se consiga começar a mitigar estes números históricos do desemprego. Apesar dos pedidos iniciais de subsídio de desemprego, houve um aumento mais moderado do número de pessoas que ainda estão a utilizar esse apoio. “Não estão a subir tão rápido, aumentando ‘apenas’ de 22,4 milhões para 22,8 milhões”, explica o economista do ING. Isso pode indiciar que a velocidade com que se estão a criar novos postos de trabalho está a aumentar, mas James Knightley sublinha que também poderão existir fatores metodológicos a distorcer esses dados e relembra que nem todos os trabalhadores são elegíveis para esses apoios.
A economia americana é mais dinâmica que a europeia no mercado de trabalho. “Em circunstâncias normais, os EUA tendem a ter menos desemprego, mas muito mais fluxos brutos de emprego para desemprego e vice-versa”, explicou Miguel Faria e Castro, economista da Reserva Federal de St. Louis, numa entrevista recente à Exame, em que referiu a maior parte dos estados americanos não estavam preparados para lidar com estes números sem precedentes.
Apesar de ser dinâmica a destruir e a criar emprego, a capacidade de regeneração da maior economia do mundo ficou bastante afetada com o Grande Confinamento. Vítor Constâncio, antigo vice-presidente do BCE, considerou recentemente numa publicação no Twitter que “não haverá recuperação em V [queda súbita da economia seguida de uma recuperação rápida] em nenhum lugar do mundo. Muitas pessoas não vão recuperar os seus trabalhos”. Alertou ainda para a fragilidade da rede social americana que, já antes da pandemia, se estava a traduzir numa diminuição da esperança média de vida dos cidadãos americanos.
James Knightley conclui que “com os constrangimentos do distanciamento social, a ansiedade dos consumidores devido ao vírus e o aperto nos rendimentos das famílias devido às dezenas de milhões de americanos fora do mercado de trabalho, o desemprego não irá cair em nenhum lado de forma tão rápida como disparou”.