“Correram notícias de que Fátima estaria sitiada por 3 500 militares da GNR. Não corresponde à verdade, são fake news”, disse aos jornalistas o bispo de Leiria-Fátima, António Marto, na conferência de imprensa que antecedeu as celebrações do 13 de maio no Santuário. Com o recinto fechado aos peregrinos os únicos visitantes, além dos habituais convidados, como o coro e os membros do clero, são os media. “Cheguei a consultar o Ministério da Aministração Interna”, revelou o bispo que apontou o dedo aos jornalistas: “não procuram apurar a verdade”.
Pelas ruas de Fátima, praticamente desertas, lojas, hóteis, restaurantes fechados, os poucos visitantes e os comerciantes que se atreveram a abrir as portas também culpam a tal notícia dos 3500 militares, que desencorajaram os peregrinos. É verdade que o Santuário estará interdito durante 24 horas: da tarde de dia 12 à manhã de dia 13. “Não queria ficar para a história como sendo responsável pelo agravamento da pandemia a nível nacional”, justificou.

Há 16 anos que o Cabo João Vidal, 44 anos, vem de Lisboa para participar na operação Fátima. É montado na bicicleta que apanha velhinhos perdidos do seu grupo, crianças desencontradas dos pais e até cães extraviados. Este ano a tarefa é bem diferente. “A nossa função é dissuadir as pessoas de cá virem. Se a informação [sobre os 3500 GNR] não tivesse circulado, as pessoas aventuravam-se e agora tínhamos aqui umas dez mil”, estima. “Somos tantos hoje como nos outros anos, só que há quem esteja de reserva, quem esteja na sala de situação [onde se analisam as câmaras de segurança] e quem esteja nas ruas e nos dois cordões de segurança à volta de Fátima”, avança. Feitas as contas, em toda a operação serão à volta de três mil. À conta da Covid-19 hoje ainda vai dormir a casa. Também não usa capacete e não entrará no posto da Guarda. “É a primeira vez em 16 anos. Não gosto de ver isto assim. Prefiro trabalhar muito e ver as pessoas felizes do que assistir a este desalento”, desabafa.

Carlos Saraiva, 62 anos, fucionário administrativo do Santuário há 38, também nunca viu nada assim. “Nem em pleno mês de janeiro”, compara. “Está a ver aquele gradeamento ali?”, diz apontando para um dos acessos ao Santuário. “Nunca vi aquilo fechado”, lamenta. Mesmo assim, pode dar-se por satisfeito. Nenhum dos 350 funcionários será despedido nem entrará em processo de lay-off, garantiu o Bispo António Marto, mesmo admitindo uma diminuição nas oferendas.

O que é preciso é ser persistente, aconselha Fernando Silva, 50 anos, dono de uma pequena loja de recordações, colado ao recinto. “Os meus colegas estão aqui dez minutos e desistem.” Nem de propósito, enquanto o bancário faz este comentário aproxima-se um cliente para comprar velas. É que hoje à noite a tradicional procissão das velas foi substituída pelo acender de velas nas janelas. Jorge Farinha, 59 anos, é de Sacavém. Veio há 25 anos para Fátima com a família à procura de melhor vida. Encontrou emprego numa fábrica de extração de pedra, que se mantém a laborar. Mas isso não o tranquiliza. “No trabalho continua tudo bem. Mas este silêncio… “