Em maio de 1980, a revista da Organização Mundial de Saúde (OMS) fazia, na sua capa, uma proclamação histórica: graças a insistentes campanhas de vacinação, o mundo tinha conseguido, finalmente, erradicar a varíola, uma das doenças virais e mais mortais de sempre. Quarenta anos depois, quando o planeta o está numa corrida urgente para tentar encontrar uma vacina contra a Covid-19, a revista Courrier Internacional homenageia essa capa da World Health, como um ponto de partida para ajudar a repensar o mundo, nestes tempos de Covid-19, mas também de outros desafios: a crise climática, a globalização e a baixa natalidade nos países desenvolvidos.
Na nova edição da Courrier Internacional, com uma seleção de artigos de algumas das mais prestigiadas publicações mundiais, lançam-se diversas pistas de reflexão sobre o que poderá ser o mundo após a pandemia atual. Para isso, reuniram-se artigos publicados em diferentes partes do planeta (Itália, Argentina, EUA, Reino Unido, China, República Checa, Colômbia, Indonésia, entre tantos outros) em que os seus autores refletem sobre as mudanças que podemos esperar nas nossas vidas e relacionamentos pessoais, mas também na economia, na política e na forma como devemos passar a olhar para a Natureza.
Amnistia e Amazónia
Com o objetivo de “repensar o mundo”, a revista publica ainda um outro extenso dossier sobre a crise climática – o maior desafio de várias gerações – e analisa as razões porque os países começam a baixar as suas taxas de natalidade quando ultrapassam um determinado desenvolvimento económico.
Numa parceria com a Amnistia Internacional, a revista publica ainda, em exclusivo, um artigo de dois ativistas daquela organização sobre a ameaça dupla que os povos indígenas sofrem, atualmente, na Amazónia, um dos locais mais importantes para o equilíbrio natural do planeta, mas que tem andado longe do foco mediático. A verdade é que, como se denuncia neste trabalho, as populações nativas estão também a sofrer com a Covid-19, ao mesmo tempo que veem os seus territórios devastados e desflorestados por “grileiros” sem escrúpulos.
Vitória sobre a varíola
Há 40 anos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) fez manchete com o título “A varíola está morta”, na sua revista World Health, com data de maio de 1980. O último caso conhecido da doença tinha sido registado em 1977 e, por isso, três anos depois foi possível garantir que a doença tinha sido mesmo extinta.
“Uma vitória para a Humanidade” era o título do editorial, na página três, assinado por Donald A. Henderson, o médico norte-americano que, ao longo de uma década, dirigiu os esforços internacionais no combate à varíola. “Conseguida por centenas de milhares de trabalhadores de saúde em todo o mundo, a erradicação da varíola representa o triunfo da cooperação internacional e da medicina preventiva”, escreveu ainda o médico, recordando que a campanha internacional se tinha iniciado em 1958, quando a então União Soviética propôs, numa assembleia-geral da OMS, que todas as nações do mundo cooperassem, num esforço global, para a erradicação da doença.
Embora escritas em plena Guerra Fria, as palavras do médico norte-americano não causaram qualquer polémica. Ficaram, isso sim, como um legado a provar que um inimigo global, como um vírus, só pode ser combatido de forma global e com a cooperação da Humanidade. Foi assim há 40 anos com a varíola, e será assim seguramente agora com a Covid-19. Por isso, a capa desta edição da Courrier Internacional é também uma homenagem a essa revista histórica da OMS.