Era o desfecho esperado mas, num país tão religioso como Israel, há que manter a fé até ao fim. À meia-noite desta quarta-feira (22h00 em Lisboa), expirou o prazo para que os partidos mais votados pudessem apresentar uma solução governativa ao Presidente. Assim, o Parlamento votou a sua própria dissolução, marcando novas eleições para o dia 2 de março de 2020. Será o terceiro ato eleitoral em menos de um ano.
Nem o líder do Likud, e primeiro-ministro em funções, Benjamin Netanyahu, nem Benny Ganz, líder do maior partido da oposição, Azul e Branco, conseguiram formar uma maioria com os restantes partidos, juntando 61 deputados (em 120), ou entender-se numa coligação que quase se poderia dizer de “salvação nacional”, perante a instabilidade política que o país atravessa desde a primavera deste ano.
Na semana passada, na véspera de Benjamin Netanyahu viajar para Lisboa para se encontrar com o Secretário de Estado norte-americano, os dois partidos mais votados fizeram uma derradeira tentativa de entendimento. No final de novembro o primeiro-ministro israelita foi formalmente acusado de corrupção, fraude e abuso de confiança, o que fragilizou a sua posição perante Gantz, um general na reforma que fez toda a sua campanha recusando governar ao lado de alguém com acusações formais na Justiça. Contudo, segundo a imprensa de Telavive, Gantz considerou aceitar um modelo rotativo de governação: seis meses pelo Likud, seis meses pelo Azul e Branco, e 18 meses depois seriam marcadas novas eleições.
Este acordo visava alcançar três objetivos: anexar o Vale do Jordão (parte da Cisjordânia) nos próximos seis meses, enquanto Donald Trump está na Casa Branca; evitar as terceiras eleições no espaço de um ano, num país cada vez mais polarizado e fragilizado; e garantir imunidade diplomática a Netanyahu, que se afastaria da liderança do Likud em 2020, deixando caminho aberto para uma eleição tranquila de Gantz.
Não houve entendimento porque Gantz insistiu que, nesse modelo rotativo, teria de ser o primeiro a chefiar o Executivo, mantendo-se em funções até a situação judicial do líder do Likud estar resolvida – uma solução que não interessava a Netanyahu, pois só como primeiro-ministro tem a possibilidade de manter a sua imunidade, uma vez que um chefe de governo israelita não é obrigado a renunciar ao cargo.
Benjamin Netanyahu terá agora de passar por uma campanha eleitoral particularmente difícil e, no final, mesmo que vença as eleições, não é certo que possa legalmente formar um governo. A lei israelita não prevê explicitamente estes casos e permite diferentes interpretações. Perante essa situação, o Procurador-Geral de Israel teria de pronunciar-se e decidir se Netanyahu poderia tomar posse – o mesmo Procurador que o acusou judicialmente no mês passado.
O cerco parece fechar-se sobre o homem que foi primeiro-ministro durante mais anos em Israel (13), mas só depois das eleições de março se poderá confirmar a sua morte política – ou a sua ressurreição.