Um novo livro afirma que a evolução da capacidade de metabolizar o álcool pode ter salvado os símios, antepassados dos humanos, da extinção. “Humanos e álcool: um assunto longo e social” é o nome da obra que analisa a história da nossa relação com o álcool, desde o passado até ao presente, e que pretende demonstrar a importância social e histórica do consumo de álcool.
Há cerca de dez milhões de anos, os nossos antepassados símios (também chamados macacos antropomorfos) comiam fruta madura caída no chão das florestas que, devido ao processo de fermentação, acabavam por se tornar alcoólicas, com uma concentração de álcool entre 1% e 4%. Os mesmos símios sofreram uma alteração genética – causada por uma proteína presente no seu organismo – que lhes permitiu processar o álcool. O livro, escrito por Kimberley Hockings e Robin Dunbar, revela que esta nova capacidade foi decisiva na luta pela sobrevivência destes primatas contra as outras espécies de macacos capazes de digerir fruta alcoólica. Os primatas acabariam mais tarde por dar origem não só à espécie humana, como também aos chimpanzés, gorilas e bonobos (chimpanzé-pigmeu), todos capazes de digerir etanol, o principal componente do álcool. “Até hoje vemos símios a comer frutas fermentadas e até a beber vinho de palma produzido por seres humanos”, disse Kimberly Hockings ao The Independent.
O livro baseia-se em conhecimentos de áreas como antropologia, arqueologia, história, psicologia e biologia, e, além de explicar o papel do álcool na nossa evolução enquanto espécie, procura demonstrar a importância que teve e tem no tecido social de muitas sociedades. “O álcool desempenhou um papel importante na maneira como os humanos usaram os banquetes para criar e manter os seus relacionamentos”, referiu Robin Dunbar, autora do livro e professora de psicologia evolutiva na Universidade de Oxford.