Numa sala de pé alto e com vista para um pátio bonito, veem-se quatro mesas brancas. Em cada uma delas, há sobremesas que vão ganhando cores, texturas e ingredientes pela mão de Ana Raminhos, chefe pasteleira do restaurante Os Gazeteiros, em Lisboa. Antes de percebermos ao que vamos, é-nos dada uma colher que guardamos até ao final desta “performance em pastelaria”, com hora e meia de duração e que se prolonga até 1 de dezembro, no Palácio Sinel de Cordes, no Campo de Santa Clara, sede da Trienal de Arquitetura de Lisboa. Logo que termina o empratamento, Ana Raminhos interrompe o silêncio e convida o grupo (no máximo 30 pessoas, por sessão) a experimentar os doces, sem qualquer orientação, deixando a curiosidade despertar perante o menu de degustação doce, o qual mais parece uma obra de arte. Há quem comece a tentar adivinhar os ingredientes e quem queira apenas saborear.
Desafiada pela organização da trienal a criar um laboratório gastronómico, Ana Raminhos, licenciada em Design de Comunicação e, desde 2009, dedicada à pastelaria de restaurante, pensou estes workshops, em que explora a relação entre agricultura, produção alimentar e cidades. Para tal, a chefe pasteleira visitou três das cinco exposições que decorrem em Lisboa, no âmbito da trienal. A que mais a sensibilizou, e ditou o tema, foi Agricultura e Arquitectura: Do Lado do Campo, na Garagem Sul do Centro Cultural de Belém, até 16 de fevereiro. “Acho que a pastelaria se relaciona com a arquitetura; nesta área também é preciso pensar no ínfimo pormenor, nas medidas e nas proporções”, diz a chefe. Com esta iniciativa, pretende-se ainda alertar para o valor justo da comida, realça-se o trabalho manual e artesanal, focando-se na temática dos produtos locais vs. importados. Numa das mesas, a sobremesa é feita com produtos portugueses, como as nozes, o requeijão, as framboesas e as beterrabas com que a chefe prepara o bolo e o sorvete. Na outra, saltam à vista os ingredientes vindos “de fora”, entre estes, o chocolate negro da mousse e musgo de algas nori e a bolacha de cacau e o trigo sarraceno e crocante de matcha. Em cada uma destas sessões, haverá outras sobremesas à prova: “Tenho vontade de fazer coisas diferentes nas semanas seguintes. E nem sempre terá de centrar-se nestas questões do local e do global”, revela a chefe de pastelaria. “Na verdade, eu gosto é de criar.”
Paisagem Natural > Palácio Sinel de Cordes > Campo de Santa Clara, 144-145, Lisboa > até 1 dez, sex-dom 16h-17h30 > €8 (pré-reserva), €10 (no próprio dia) > reservas: exercicioexperimental@gmail.com