Até há bem pouco tempo, Harvey Weinstein era apenas um produtor cinematográfico de sucesso que, juntamente com o irmão Bob Weinstein, fundou em 2005 a empresa de produção The Weinstein Company. Em outubro deste ano, o produtor foi acusado de assédio sexual por várias mulheres incluindo Ashley Judd, Angelina Jolie, Gwyneth Paltrow e Cara Delevigne. Agora foi a vez de Salma Hayek contar a sua história.
“Harvey Weinstein era um cinéfilo apaixonado, corajoso, um grande talento da indústria cinematográfica, um pai amoroso e um monstro. Durante anos, ele foi o meu monstro”, começa por dizer a atriz mexicana de 51 anos. O desabafo de Salma remonta a 2002, quando trabalhou pela primeira vez com Weinstein no filme “Frida”.
Salma Hayek relata que Frida Kahlo foi a sua grande inspiração no início de carreira e que o que mais queria era poder contar a história da pintora mexicana. Quando essa oportunidade apareceu, Salma admite :”nem pensei no dinheiro. Estava tão entusiasmada por trabalhar com ele e com a produtora. Na minha ingenuidade, pensava que o meu sonho se tinha tornado realidade. Ele tinha acabado de validar os últimos 14 anos da minha vida. Ele tinha apostado em mim e eu não era ninguém!”.
Rapidamente percebeu que trabalhar com Harvey não ia ser o sonho que imaginava e deu por si a rejeitar as investidas do produtor. “Não a tomar banho com ele. Não a deixá-lo observar-me enquanto tomava banho. Não a deixá-lo fazer-me uma massagem. Não a deixar um amigo dele fazer-me uma massagem. Não a sexo oral. Não a despir-me com outra mulher. Não, não, não, não e não. E a cada recusa a ira maquiavélica de Harvey crescia. Não há nada que ele odeie mais que a palavra ‘não'”.
A técnicas de Harvey começaram, segundo Salma, a evoluir. As conversas iniciais passaram a ataques de fúria e acabaram em ameaças como “eu mato-te! Não penses que não sou capaz”. Por fim, Harvey disse à atriz que iria dar o papel de Frida a outra pessoa juntamente com o guião que contava com anos de pesquisa por parte de Salma. “Aos olhos dele eu não era uma artista. Eu nem sequer era uma pessoa. Era uma coisa: não era nada, apenas um corpo”, diz a atriz. O filme acabou por sair e ganhou dois óscares.
Salma Hayek explica que se sentiu envergonhada com a situação e que não falou sobre o assunto antes porque isso implicava ter de dar explicações às pessoas mais próximas. “Eu não considerava que a minha voz fosse importante, nem achei que faria a diferença. Na realidade, estava a tentar proteger-me do desafio de explicar diversas questões aos meus entes queridos”, acresenta a atriz.