Bloco: ser ou não ser Cristo
“Jesus também tinha dois pais” é o cartaz lançado pelo Bloco de Esquerda para celebrar a aprovação da lei da adoção por casais do mesmo sexo, onde aparece a imagem do Sagrado Coração de Jesus. Entre a indignação, a ironia e o riso, o povo 2.0 reagiu. A ideia do BE, segundo Catarina Martins, é assinalar aquilo a que chama “um avanço na luta pelo respeito por todas as famílias, independentemente da orientação sexual de quem as compõe”. Resultado: as redes sociais ferveram de ataques e contra-ataques e a Igreja, numa declaração mais terrena, considerou a propaganda bloquista uma “afronta aos crentes que seguem Jesus Cristo” e aos que “são da Igreja”, nas palavras do porta-voz da Conferência Episcopal, Manuel Barbosa. Segundo aquele responsável da hierarquia católica, o polémico cartaz “faz uma analogia sem sentido” e lamentou que o BE não tenha em atenção as convicções dos seguidores de Cristo. Em comunicado, o BE descarta a autoria da frase – trata-se, segundo referem os seus dirigentes, de um velho slogan do movimento internacional para a igualdade de direitos – mas assumiu o recurso ao humor e o direito à polémica, sem desrespeitar as convicções religiosas. Já temos o nosso “Je Suis Charlie”, mas em versão “brandos costumes”.
“Eu fico”…mas vou
Em 2001, Paulo Portas candidatou-se à Câmara de Lisboa. O cartaz mais emblemático com que encheu as ruas da capital tinha uma frase de peso: “Eu fico”. Pleno de convicção e certezas. A derrota do CDS nessas eleições foi, porém, clamorosa e não apenas naquela autarquia. A promessa também não durou e Portas foi à sua vida. Ontem como hoje, o “irrevogável” faria o seu caminho.
Os gatos e o cartaz “fedorento”
Em 2007, o grupo de humoristas Gato Fedorento decidiu combater a direita radical do Partido Nacional Renovador, e a sua luta contra os imigrantes, lançando um outdoor que era puro combate político, a brincar com coisas sérias. Um cartaz xenófobo do PNR exibido nas ruas de Lisboa foi reduzido a uma anedota. “Quem vive em democracia não tem que ter medo dos criminosos. Os criminosos é que devem ter medo de viver em democracia.”, justificou então Ricardo Araújo Pereira à VISÃO. “Aquilo não é a direita, é outra coisa. De direita é o meu amigo Zé Diogo”, acrescentou. O cartaz do PNR acabou vandalizado e a polémica chegou ao International Herald Tribune. Quase tão fedorenta como cá.
Os desempregados que não eram
O PS também se meteu em grandes alhadas com os cartazes na última campanha eleitoral. Teve direito a uma primeira asneira com um outdoor que fazia lembrar os traços de uma qualquer seita religiosa, mas repetiria a dose com uma vaga de cartazes com o rosto e as frases de desempregados que, na generalidade, não o eram. Depois de semanas de polémica e da demissão de Ascenso Simões da direção de campanha, António Costa pediu desculpa aos portugueses numa entrevista à VISÃO: o caso fora, no entender do secretário-geral, “lamentável” e resultara de “uma sucessão de equívocos”. Quem diz que fez mal?
Otimistas? Só no banco de dados…
A coligação PSD/CDS também ficou mal na fotografia na última campanha. A dada altura, o País foi invadido por outdoors onde figuravam rostos alegres e confiantes no futuro do País após a terapia de choque da austeridade. Pois bem: aquelas caras não eram de portugueses entusiasmados com a governação de direita, mas sim de figurantes “pescados” em bancos de dados internacionais. O PSD, pela voz do seu secretário-geral, Matos Rosa, gabou-se de seguir “as boas práticas nacionais e internacionais em termos de comunicação”, mas a ideia de “humanizar as mensagens” já tinha ido parar ao lixo.