No domingo, 13, o metro vai ter uma enchente. Depois de as portas se fecharem, à uma da manhã, entrarão cem pessoas, vestidas de forma estranha: equipamento e ténis para correr, capacete e luz na cabeça. Às duas e meia iniciarão uma corrida pelos carris do metro, ao longo de 10 quilómetros. Começam em São Sebastião e acabam no aeroporto (o percurso da linha vermelha). O canal Discovery Channel estará lá para gravar as imagens e transmiti-las, mais tarde, na televisão num documentário. O atleta Nelson Évora será o padrinho desta iniciativa. “A Discovery Underground Lisboa não é uma prova competitiva, trata-se antes de uma experiência. Haverá zonas em que as pessoas serão até aconselhadas a pararem de correr”, explica Rodrigo Fernandes, da Lift Consulting, que trata da comunicação desta original prova. A ideia foi decalcada de outras corridas idênticas que já aconteceram em Espanha, nos metros de Madrid e Barcelona, também organizadas por este canal de televisão por cabo.
João Reis, 33 anos, foi um dos cem escolhidos para esta aventura. Quando se candidatou falou da missão militar onde estivera inserido. Acabara de chegar de Cabul, um teatro de operações de guerra, e decidiu candidatar-se. “Fiz uma analogia entre esta prova e o ambiente de incerteza, as horas que passei a conduzir à noite, sem perceber o que estava à minha volta.” João corre por desporto e para manter a forma física e, por isso, não quis perder a oportunidade de viver outra experiência marcante, sui generis. De capacete, é certo, mas desta vez sem o perigo à mistura.
Nuno Lucas, 43 anos, preferiu evocar a sua história de quase morte na candidatura à corrida. Em 2006, depois de uma rixa em que foi esfaqueado nas costas, sem sequer se aperceber, acabou no hospital a ser operado de tórax aberto. Esteve com a vida por um fio e nunca mais foi o mesmo. Mudou para melhor, porque percebeu que as coisas boas podem desaperecer num segundo. E uma das grandes diferenças foi passar a fazer maratonas, algo que sempre lhe parecera impossível. Hoje vai a correr de casa para a esquadra que chefia na Quinta do Conde, na margem sul de Lisboa, e tem dezenas de quilómetros no currículo – a prova de domingo é mais uma a juntar à lista. “Vai ser um ambiente e experiência diferente, com vários tipos de pessoas.” Cada um com a sua história emocionante.