Não há memória de a situação alguma vez ter acontecido. Uma espécie de vácuo, buraco negro no executivo. Instalou-se a perplexidade entre os técnicos de transportes, funcionários e mesmo quadros responsáveis dos próprios organismos públicos do sector: não fazem ideia a que ministério irão reportar, e quem definirá as políticas. É que, ao contrário do que é tradição, e apesar de haver agora mais pastas ministeriais, António Costa não criou (ou pelo menos, não o anunciou oficialmente, nem na tomada de posse) qualquer Ministério ou Secretaria de Estado dedicada aos transportes e à mobilidade.
Tradicionalmente, os Transportes estavam inseridos num Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações. O caso torna-se particularmente insólito, na medida em que os transportes assumem uma importância crescente nas políticas nacionais e europeias – há até, na Comissão Europeia, uma comissária apenas dedicada ao sector. Sobretudo no que toca às políticas de mobilidade: tem uma primazia crescente tudo o que respeita à resolução dos problemas que implicam deslocações, seja a pé, bicicleta ou soluções electrónicas e questões de ordenamento do território.
Em todos os executivos da Europa existem pastas associadas aos transportes. Estejam elas integradas nas questões de eficiência ambiental e energética, seja na aposta em soluções de carros elétricos, em vez dos de combustão interna (também em associação à indústria e desenvolvimento tecnológico). A nível Europeu, concerta-se toda uma estratégia e definem-se linhas de prioridades sobre mobilidade.
Em Portugal, está prevista, até 2020, a renovação da frota da admnistração pública com 1200 carros elétricos.
Há quem sustente que os Transportes e Mobilidade ficarão integrados no Ministério da Economia, ou no do Planeamento e Infraestruturas ou então no do Ambiente. Seja como for, ainda só se especula, e oficialmente ainda não foi indicada a tutela do sector.
A situação deste «esquecimento» torna-se um pouco estranha, tendo em consideração que Costa conta no seu excutivo com Ana Paula Vitorino (que já foi secretária de Estado dos Transportes do governo de Sócrates ). Costa, ele próprio, desloca-se num veículo elétrico (fez questão de o usar na tomada de posse) – calcula-se portanto que estará desperto para o tema energético no transpote individual. E, curiosamente, foi a questão dos transportes e da mobilidade que lhe deram notoriedade, quando fez concorrer um Ferrarri contra um burro, na calçada de Carriche, para demonstrar as dificuldades de deslocação das populações de Loures, como ação de campanha, enquanto concorria à presidência da autarquia.