ESTAMOS SÓS.
Ponto 1 – ESTAMOS SÓS – A “marcha dos Indignados” de 15 de Outubro de 2011 manchará irremediavelmente a História da Democracia Portuguesa. É verdade que foi um acontecimento que marcou muitas cidades Europeias bem como outras fora do nosso continente, mas as pessoas em Portugal atingiram o limite do conformismo.
Basta de retirar direitos! Basta de obrigar as pessoas a pagar o que foi má gestão de outros! O Dr. Passos Coelho não encontra outro formato para que o País funcione e cumpra os seus compromissos? Vá procurar quem o saiba fazer e siga a via do crescimento e da criação de emprego. O ar compungido com que vem “dar as condolências” ao povo começa a parecer hipocrisia. O resultado das últimas medidas vai ser catastrófico para quem tem , também, compromissos individuais e familiares a cumprir.
Nós somos pessoas, com famílias para cuidar. Esqueceu-se o Primeiro Ministro e calou-se o Presidente da República sobre um facto real, que assombra o País: atrás destas tomadas de decisões precipitadas vão ficar empréstimos por pagar à banca – uma das grandes culpadas da catástrofe económica e financeiras dos países a leilão -, idosos sem apoio, crianças sem uma refeição decente.
Não interessa se a função pública ganha mais 10% ou 15% do que os outros trabalhadores. Sabem por acaso esses senhores, a quem faço referência no parágrafo anterior, que os jovens desempregados são, muitos deles, filhos desses mesmos funcionários públicos? E têm conhecimento de quem lhes dá abrigo, refeição e apoio em necessidades básicas fundamentais garantes da dignidade de homens e mulheres? E agora?!
Sentem-se e pensem, meus senhores. O mais rápido raramente é o melhor. O palavrão BURACO já cansa. O que é isto?! Vamos à procura de quem é responsável por este estado de coisas, em vez de oprimir quem é honesto e trabalhador…E, acreditem, não foi só o governo socialista a destruir as estruturas do País; toda esta desorganização vem, também, de anteriores ministros do PSD que não se podem furtar a responsabilidades num momento como o que atravessamos.
Fico-me por aqui nesta minha indignação. Vivo junto das pessoas e assisto às dificuldades por que estão a passar. Quem toma medidas destas não merece que se perca muito tempo a escrever ou a elaborar ensaios que não levam a lugar nenhum. Para já, perdemos. O povo Português não tem ninguém que cuide do seu bem-estar. Vai lutar sozinho. E vencerá.
Ponto 2 – EM CONTRAPONTO – Era por ali que estavam habituados a encontrar-se. Davam as mãos com carinho e não pronunciavam palavras. Nenhum som humano se atrevia a espreitar a paisagem verde e azul, abundante de árvores e de céu. Só de vez em quando um vento brando soprava um som suave e amigo, como que a afirmar a cumplicidade no segredo guardado num tempo que já esquecera o tempo.
No banco de pedra atapetado de folhas secas coloridas que sussurravam sob os pés nus de ambos, a lava da terra acolhia aqueles seres que ali iam encontrar sossegos de cidades rudes e vaidosas. Amavam-se serenamente. Os olhos brilhando por entre pálpebras cerradas. Saboreando aquela dança que uma música recordada pelos dois tornava única. Os dedos que se entrelaçam já não pertencem a juventudes. São nodosos e secos; têm marcas de dores e passados, de sofrimentos amaciados por ternuras. Mas conhecem as histórias mútuas e sabem consolar-se. Porque o amor consola e abranda medos e solidões.
Foram jovens. Riram gargalhadas soltas nos ares da Ilha, escutando o eco que lhes respondia alegremente. E cantaram canções de amor valsando ao som do dedilhado de uma guitarra vinda do tempo de avós que não conheceram mas de quem ouviram histórias de honras e desonras, de amantes trepando muros a fim de consumarem desejos proibidos. E perceberam, tal como agora, que não há amores proibidos; porque não é possível negar o que tem que ser cumprido.
Hoje, muito para lá da juventude, o tempo já os atravessou com lanças e espadas. Por isso sabem tudo. Mas estão ali, a amar-se discretamente no escuro da noite que os acolhe e sorri. Superaram o medo da noite e o medo da passagem das horas de relógios inúteis. Têm-se um ao outro e é-lhes suficiente. São felizes. Mas, o que é a felicidade? Um simples abraço bom; a certeza de não ficar só; o segredo dos sonhos da Ilha a serem contados por vozes de avó, mesmo quando a partida já foi consumada.
Dra. Maria da Conceição Brasil mcbrasil2005@hotmail.com
17/10/2011