Mais uma vez um dos principais envolvidos no caso da compra falhada da TVI pela Portugal Telecom ensurdeceu a Comissão de Ética da Assembleia de República com os seus silêncios. Honrem-se, aqui, os deputados, pela sua paciência e persistência – não é fácil estar a ouvir alguém duas horas e meia e chegar ao fim da sessão de mãos vazias e orelhas cansadas.
Rui Pedro Soares, ex-administrador da PT, do qual se conhecem conversas mantidas com outros socialistas, reveladas nas escutas publicadas pelo semanário Sol, sobre o negócio que visava a TVI, escudou-se no segredo profissional para driblar os deputados. Como começou o negócio da TVI? Como resposta, citou uma entrevista de Zeinal Bava. Porque foi considerada estratégica? De novo, citou Bava. Como terminou? Sem citar ninguém, disse que não podia responder. Porque foi mandatado para conduzir o negócio, se as suas funções principais eram na área do Imobiliário e dos patrocínios aos clubes de futebol? Que Zeinal Bava e Henrique Granadeiro, os responsáveis máximos da PT, respondessem quando depusessem perante a comissão.
Foi assim, durante duas longas e fastidiosas horas e meia. Cecília Meireles, deputado do CDS-PP, protestou. João Semedo, deputado do Bloco de Esquerda, disse-lhe que o depoimento não era “convicente”. João Oliveira, do PCP, questionou-lhe a veracidade das informações prestadas à comissão. E Pedro Duarte, do PSD, revelou estar “frustado”.
Mas se sobre o papel da PT e o seu, no negócio falhado da aquisição da TVI, pouco disse, sobre o Futebol Clube do Porto espraiou-se. Apresentou-se como adepto do clube, assim como os filhos (menos a filha de sete anos, que é do Sporting), assim como o pai e assim como o avô, que foi a enterrar com uma bandeira do clube! E só não continuou porque Luís Marques Guedes, presidente da Comissão, interrompeu a algaraviada futebolística exigindo que o convidado respondesse às perguntas. Mas o PS, que nos trabalhos da comissão se limita a tentar conter os danos causados ao governo e ao primeiro-ministro, principais alvos dos depoimentos, lá lhe possibilitou, à segunda ronda de perguntas, que concluísse o episódio futebolístico.
Se a necessidade de uma comissão de inquérito, que investida de mais poderes pode obrigar os depoentes a prestar outro tipo de informações, não é claro para todos os partidos políticos – excepto para o Bloco de Esquerda -, então a sessão com Rui Pedro Soares terá certamente esclarecideo como é imperiosa a sua constituição. A menos que o tema da Liberdade de Expressão em Portugal não seja importante. Ou que os deputados queiram manter por mais tempo o deplorável espectáculo de uma comissão que pouca capacidade tem para apurar e muito e muitos terá ainda de ouvir. É assim, sabe-se, que se produz um barulho ensurdecedor.