Num belo dia, corria o ano de 2014, ouvi de um superior hierárquico: “Não tentes parar o comboio, senão o comboio passa-te por cima.” Tendo em conta que achava que o que estava a ser planeado era muito importante, mas um erro crasso, tentei mesmo – e, com algum trabalho, consegui – parar aquele comboio.
Lembro-me desta frase amiúde. Uso-a como espécie de mantra contra o conformismo e o egocentrismo. Percebi, com os anos, que há duas maneiras de estar no mundo: quem está só a ver passar comboios e quem quer entrar neles, se forem no bom caminho, ou travá-los, se forem na direção errada. As pessoas de quem gosto tentam parar comboios ou mudar-lhes a direção.
Chamem-lhes sonhadores e utópicos, eu chamo-lhes combativos e ativistas. Não há progresso social sem eles. O mundo precisa de gente que pensa no que vê todos os dias à sua volta e que não se acomoda com o que não está certo. Que se mobiliza para tentar mudar o mundo, nem que seja um só caso ou uma pessoa de cada vez.
A nossa protagonista de capa desta edição é atriz e encenadora, mas é essencialmente uma inconformada. Sara Barros Leitão tem lá dentro inquietação. Usa o teatro e as suas plataformas sociais como instrumentos do bem para falar de causas variadas. O feminismo é a sua maior batalha, mas ela envolve-se nos mais diversos projetos que olham para franjas e minorias. A sua tribo reflete isso mesmo: gente admirável com causas.
É um orgulho para a PRIMA poder dar-lhes voz.
EDITORIAL DA PRIMA 13