O livro Shelf Life: Writers on Books and Reading, da British Library Publishing, reúne um conjunto de ensaios e textos sobre o tema do vício dos livros e leituras, publicados por diferentes personalidades, de políticos a escritores, entre o século XVI e XX. Inclui o famoso ‘Unpacking my Library’, de 1931, no qual o filósofo alemão Walter Benjamin traça uma série de interessantes considerações sobre a ligação entre os homens e os livros, enquanto desembala a sua biblioteca. Entre elas, cita a resposta do poeta francês Anatole France (1844-1924) quando questionado por um estranho sobre a quantidade de livros da sua biblioteca que já tinha lido. “Não li nem um décimo. Suponho que não use a sua porcelana Sèvres todos os dias?”
Serve o episódio para ilustrar a alma de colecionador que têm muitos dos apaixonados por livros, numa compulsão para comprar de forma desenfreada, também chamada de ‘bibliomania‘. Acredita-se que o termo tenha sido cunhado no século XIX, pelo escocês John Ferriar, que sobre ele fez um longo poema (também disponível em Shelf Life). Os japoneses têm outra palavra para esta prática: ‘tsundoku‘. Aquela arte de comprar livros (em exesso…) que (provavelmente) vão acabar nas prateleiras a ganhar pó enquanto são ultrapassados por outras novidades editoriais.

Num artigo da BBC, publicado em 2018, faz-se a distinção entre ‘bibliomania’ e ‘tsundoku’. O primeiro dizia respeito, na etimologia, à obsessão de comprar primeiras edições ou livros raros, tendo hoje evoluído para o entusiasmo em comprar e possuir livros; já o segundo está relacionado com a ideia de comprar livros cuja intenção é serem lidos, mas acabam numa pilha à espera de serem escolhidos. Diz o mesmo artigo da BBC que a palavra foi encontrada em escritos do século XIX, mas que se acredita ser anterior a essa data. E que não é usada de forma depreciativa. Etimologicamente, resulta das junções entre ‘tsunde-oku’, tradução para ‘deixar algo empilhar-se’ e ‘doku’, traduzido como o verbo ‘ler’. Uma tradução livre, sugere a revista Kinfolk, é ‘comprar materiais de leitura e acumulá-los numa pilha.” Um hábito que muitos leitores vorazes têm.
Outras pequenas doses de sabedoria:
- Colámos na história da invenção do Velcro;
- Onde nasceu o urso de peluche?