Pizza à Bulhão Pato. Primeiro estranha-se, certo? Mas se o leitor dedicar uns segundos extra ao assunto, concluirá, tal como a PRIMA, que uma das melhores partes de um prato da mais consensual receita de amêijoas do país é molhar o pão no molho. Então, porque não será vencedora à partida uma pizza com massa de fermentação lenta e bordas gordas, onde os ingredientes são creme de Bulhão Pato, mozzarella, amêijoas, pecorino, um pesto de coentros e raspas de limão? Assim pensaram, e bem, os irmãos responsáveis pela nova Jezzus, no bairro dos Anjos, que não têm medo de combinações menos comuns, feitas com matéria-prima de qualidade, vinda de pequenos produtores portugueses.

A casa é nova, mas o grupo de restauração da qual faz parte tem muita história na cidade. Chama-se Alfredo de Jesus e, conta-nos o filho do fundador, Tiago Jesus, “é uma empresa de cariz familiar com mais de 30 anos de experiência em Lisboa e mais de 40 unidades de negócio, entre restaurantes de rua, cafetarias de hospitais e de universidades.” A nova geração, na figura de Tiago e do irmão, Diogo, sempre trabalhou no grupo, mas está agora a dar-lhe nova vida. “Quisemos apostar em marcas criadas de raiz, como a Jezzus”, um nome que brinca com a junção das palavras ‘jesus’ e ‘pizza’, num espaço de decoração simples e minimal, com muito mármore rosa, e estética pop, da qual faz parte o letreiro ‘Pizza saves’, à porta do restaurante – curiosidade: uma antiga churrasqueira do grupo, totalmente reconvertida. “Acabámos com as brasas”, brinca Tiago. E instalaram um forno italiano Marana, que trabalha num sistema misto de gás e lenha, com pedra vulcânica do Vesúvio no interior, onde as pizzas assam 90 segundos a uma temperatura de 400 a 420º.

Para a massa mãe usam-se farinhas de moleiro, do fornecedor Paulino Horta, que fermentam entre a 48 e 72 horas, resultando numa pizza de massa crocante por fora e leve no interior. Há, inclusive, possibilidade de pedir um prato chamado Molha Bordas, composto por tomate temperado, creme de queijo azul e pesto de pistáchio, para pedir caso as mesmas sobrem no fim.
Para as combinações, há a clássica Margherita; a Holy Gunciale, com papada de porco preto alentejano, cebola roxa e salsa; a Oh Pear, com pera rocha, queijo veludo de cabra, amêndoa e mel; a Funghi Mio, com creme de limão, mozzarella, cogumelos shitake, pleurotus, salsa e raspa de limão; ou a Judas dos Açores, com ananás dos Açores, chouriço de porco preto alentejano, parmesão e pesto de coentros. “Há sempre aquela questão: ‘ananás na pizza, sim ou não?’. Nós achamos que sim. Assamos o ananás inteiro e fazemos um creme, que combina com o chouriço”, relata Tiago. O tomate é italiano, San Marzano, e a maioria dos outros produtos é escolhida de projetos como o Ortodoxo, no caso do queijo azul de Azeitão, por exemplo, ou do Nãm Mushroom, no caso dos cogumelos, que crescem nas borras do café. A loiça, lindíssima, é desenhada à mão na Oficina da Formiga, em Ílhavo, e merece ser apreciada. Nota final para uma sobremesa curiosa, a cookie de chocolate assada no forno e servida com gelado de baunilha.

A Jezzus tem 30 lugares no interior, tem possibilidade de take-away, em bonitas caixas cor de rosa, e está nas principais plataformas de delivery. Levar o divino até casa é uma das ideias dos irmãos Jesus, que estão cheios de planos para a cidade de Lisboa. Entre eles, replicar este restaurante.
Rua da Guiné, 1A, Lisboa / 21 814 2186 / ter-dom 12h-00h