Quantos projetos neste mundo não nasceram sob a nomenclatura ‘Projeto X?’. Este, fabricado entre três primos direitos e escuteiros desde os sete anos, Tiago Pinto, Ricardo Amaral e João Duarte, fez o percurso contrário. Nasceu apenas como ‘Serra’, durante um acampamento na Serra da Freita, em Arouca, quando os três, amantes de roupa outdoor de montanhismo, decidiram ter uma marca própria. E só depois ganhou o primeiro nome. Afinal trata-se de uma ideia em constante evolução e que vai bastante além das peças de roupa, centradas nas camisolas polares. Tem também um cariz social e solidário, quer promover os ofícios de cada serra e o trabalho de artesãos locais.
“Sempre vivemos este imaginário das serras, da natureza, do interior do país. E quando pensámos em ter uma marca roupa, tivemos logo a ideia de escolher malhas polares”, conta Tiago Pinto, um dos primos e fundadores. Para o arranque, no ano passado, criaram uma camisola especial com diferentes tons e detalhes, para quatro serras nacionais – sendo as quatro primeiras aquelas com as quais têm uma ligação mais emocional. A Estrela tem uma gola forrada com pelo de ovelha – “toda a gente teve uns chinelos típicos da Serra da Estrela a dada altura, certo?”, pergunta Tiago, explicando onde se inspiraram; a Pico tem um bolso inspirado na técnica de tecelagem da ilha e um botão em vime, que é feito nos Açores; a da Freita repesca o burel usado pelos pastores nas suas capuchas e é beje com um capuz em burel; a do Soajo é amarelo torrada, com aplicações em burel cinzento, duas cores que lembram tanto o amarelo das folhas das vinhas como os espigueiros da vila.
E porque não querem ser apenas uma marca sazonal, no verão lançaram uma t-shirt em homenagem a 35 serras de Portugal. “A t-shirt é vendida com um pequeno kit de costura para as pessoas irem cosendo os quadradinhos em frente ao nome da serra à medida que as forem descobrindo”, explica Tiago.
Este ano, além da homenagem às serras, quiseram pegar nos ofícios a elas associados e aplicar em cada uma das quatro novidades algum detalhe tradicional. “Essa parte da pesquisa é muito interessante, é sempre uma altura divertida para nós”, confessa Tiago, que, tal como os primos, trabalha noutra área (no caso, em hotelaria). “Para esta coleção, falámos com o nosso avô, com outras pessoas mais velhas, para recolher memórias de tradições antigas e tentar encaixá-las em algumas serras.”
O resultado é, novamente, uma coleção 100% fabricada em Portugal, em Penafiel, com detalhes feitos localmente, na zona de cada uma das serras. A Aire tem aplicação das clássicas mantas de Aire na gola, a Gardunha, é feita com malha sherpa reciclada e homenageia os pastores “e a sua transumância, em busca do melhor pasto para o seu gado”, revela Tiago, a Marão é cor de vinho, para lembrar os ofícios dos tanoeiros que constroem as barricas, o casaco Monchique é bege, como as cadeiras tesoura feitas por marceneiros na zona. Os preços começam nos €105 (exceção à t-shirt, de €38) e as camisolas vendem-se online ou nas lojas The Feeting Room, em Lisboa e no Porto.
Também fazem meias temáticas, com ilustrações especiais para cada serra e bandeirolas, feitas à mão por encomenda (bem bonitas, sublinhe-se) e mantêm uma ligação com as comunidades de algumas serras. “Não queríamos que fosse só uma marca. Daí o nome Projeto.” Por exemplo, até dia 26 de dezembro, 5% das vendas revertem a favor da associação Guardiões da Estrela, que apoia os pastores da serra. Já participaram em ações de recuperação de uma aldeia e ajudam também a divulgar outros projetos que aconteçam nas diferentes montanhas portuguesas. “Estamos muito neste círculo de amigos, de escutismo, caminhadas. Conseguimos entrar nesse mercado, mas também no da saudade, com várias encomendas de emigrantes”, diz Tiago. Têm vendas na Suíça, França, Luxemburgo, sobretudo, mas também nps Estados Unidos. E esperam crescer, claro. O Projeto Serra tem pernas para tal.
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