Após nove horas de negociações, esta quinta-feira, os líderes europeus comprometeram-se em alcançar a neutralidade carbónica em 2050 – ou seja, com um nível de emissões que seja totalmente compensado pela absorção de dióxido de carbono (pelas florestas, por exemplo). Mas a Polónia decidiu não fazer parte do acordo.
Charles Michel, presidente do Conselho Europeu, disse numa entrevista coletiva que a adaptação é mais difícil para uns países do que para outros e comprometeu-se em continuar a trabalhar para convencer a Polónia a apoiar e participar na decisão coletiva. “Tomámos esta decisão com respeito a muitas preocupações de diferentes países, porque sabemos que é importante levar em consideração as diferentes circunstâncias nacionais e também diferentes pontos de partida”, declarou. Em junho de 2020, o assunto voltará a ser debatido.
Em novembro do ano passado, a Comissão Europeia apresentou uma proposta para atingir emissões líquidas de zero até 2050 – um objetivo de longo prazo necessário para que a UE possa cumprir a meta do Acordo de Paris – em que foram criadas medidas para redução de emissão de gases de efeito de estufa a partir de 2020, de forma a combater o aquecimento global.
Mateusz Morawiecki, primeiro-ministro da Polónia, justificou a sua decisão desalinhada dizendo que foi uma negociação difícil e que a Polónia irá alcançar a neutralidade carbónica “ao seu próprio ritmo”. A Polónia, que tentou adiar a meta até 2070, é governada por um executivo conservador.
A associação ambientalista ZERO declarou, em comunicado, que considera a decisão da Polónia “lamentável” e elogia a iniciativa da UE para 2050, acrescentando que agora é necessário aumentar a meta para 2030, antes da Conferência do Clima das Nações Unidas, em novembro do próximo ano. No entanto, critica o facto de a energia nuclear ter entrado nas discussões. “A energia nuclear não pode ser considerada uma solução para enfrentar a crise climática, pois é uma fonte de energia perigosa, cara e insustentável”, lê-se no comunicado. Não é essa, no entanto, a opinião da comunidade científica. A posição oficial da União de Cientistas Preocupados (uma organização não-governamental de defesa da Ciência, com 200 mil investigadores associados) é de que a energia nuclear é fundamental para limitar os efeitos das alterações climáticas, uma vez que produz eletricidade sem recorrer à queima de combustíveis fósseis.
A COP 26 (conferência do clima no âmbito da ONU), que ocorrerá em Glasgow daqui a um ano, é o prazo para que todas as partes do Acordo de Paris enviem novas metas de redução de emissões de gases de efeito de estufa até 2030.