O filme À Procura de Nemo, de 2003, transformou o peixe-palhaço numa das espécies mais desejadas por humanos. Desde então, a sua venda disparou: a Fundação Saving Nemo vem repetindo o alerta, desde que, a cada ano, se capturam mais de um milhão de exemplares que acabam nos aquários lá de casa. Esta procura provocou, claro está, um decréscimo significativo da população. Mas agora os peixes estão debaixo dessa outra ameaça que são as alterações climáticas. Segundo um estudo publicado este mês na conceituada revista Nature, o peixe-palhaço apresenta uma baixa das suas hormonas reprodutivas quando a anémona em que habita perde a cor devido ao aumento da temperatura do oceano.
A investigação ocorreu entre outubro de 2015 e dezembro de 2016 na lagoa de Moorea, uma ilha da Polinésia Francesa, no oceano Pacífico, e o objetivo era medir quantos ovos punham os 13 pares de peixes da espécie, com que frequência e quantos sobreviviam. Em março de 2016, o fenómeno do El Nino fez disparar a temperatura do mar até ao máximo histórico de 29,3 graus – com aquecimento da água, alguns corais e anémonas expulsam as zooxantelas, as algas que lhes dão cor. Resultado? Os peixes-palhaço que ali residiam mostravam altos níveis de cortisol no sangue, uma hormona libertada como resposta ao stresse. E nos meses em que a água esteve mais quente, a frequência com que punham ovos diminuiu mais de metade. Parâmetros que permaneceram sem alterações em habitats de anémonas que não perderam a cor.