Luís Rovisco talvez se torne uma das grandes personagens do cinema português. O protagonista de Technoboss, de João Nicolau, construiu-se com características únicas, também ligadas às idiossincrasias do seu intérprete, o antigo administrador da Culturgest e do CCB, Miguel Lobo Antunes, que aqui, aos 70 anos, se estreia como ator. Esta ideia, por si só, é surpreendente. Mais surpreendente se torna quando nos apercebemos de que Lobo Antunes, mais do que fazer de si próprio, realmente atua, e até canta e dança ao longo do filme.
Technoboss é um filme centrado numa só personagem. Rovisco é o representante comercial de uma empresa de sensores de segurança e afins, que anda pelas estradas do País a vender e a dar assistência a esses apetrechos tecnológicos. Um homem experiente mas na iminência de ser ultrapassado pelo tempo. Mais do que isso, Technoboss é uma bela e feliz história de amor tardio, com muito humor e música à mistura.
Nos filmes anteriores, João Nicolau já nos habituou a um jogo fantasioso entre os limites da realidade e a representação cinematográfica. Desta vez, melhor do que nas duas longas anteriores, consegue usar esses elementos de forma a construir um objeto consistente e relativamente linear, que começa na definição forte da personagem – que nos conquista ao mesmo tempo que nos intriga. E desenvolve-se numa história simples mas cheia de pormenores enriquecedores. As cenas no carro, em que Rovisco canta admiravelmente temas falsamente naïves, compostos por Norberto Lobo, Pedro Silva Martins e Luís Martins, são espantosas. Mas toda a construção, as situações e os diálogos, da autoria de Mariana Ricardo e de João Nicolau, são espirituosos e cativantes. Isso faz de Technoboss não só a melhor longa-metragem de João Nicolau, como também a mais apetecível para o grande público.
Veja o trailer do filme
Tecnoboss > De João Nicolau, com Miguel Lobo Antunes, Luísa Cruz, Américo Silva, Duarte Guimarães > 112 minutos