Foi com alguma desconfiança que muitos dos fãs iniciais do NOS Primavera Sound começaram por olhar para o cartaz deste ano. Afinal, ter como cabeça de cartaz um nome como o de J Balvin, cantor colombiano de trap e reggaeton, que ainda há poucos anos atuou no Sudoeste, é algo aparentemente nos antípodas da tradição de um festival de música (dita) mais alternativa – mas só aparentemente. Se há, aliás, algo de que o Primavera não pode ser acusado é de não arriscar, seja quando faz dois concertos de Patti Smith na mesma edição ou quando, como agora, apenas se limita a fazer aquilo que um festival com o seu ADN deve sempre fazer: estar atento às tendências mais atuais, mesmo aquelas que, pelo menos por agora, incomodam uma boa fatia do seu público mais fiel.
Se há algo que se mantém no cartaz é a vontade de alargar o espectro musical do festival, tendo apenas como único critério a qualidade (tal como o gosto, sempre discutível) e não tanto as (cada vez mais ténues) fronteiras entre géneros musicais. No primeiro dia, o rap de intervenção de Allen Halloween e os sons da Nova Lisboa crioula de Dino d’Santiago coabitam com o novo espetáculo cénico desse ícone indie que é Jarvis Cocker, a pop laboratorial dos regressados Stereolab ou o R&B de Solange. Depois, haverá lugar, por exemplo, para as novas heroínas indie Aldous Harding e Courtney Barnett, os rockers Interpol, o lirismo pop do repetente James Blake, a folk etérea dos Big Thief, a diva da música negra Erykah Badu, a lenda da MPB, Jorge Ben Jor, ou a regressada Lena d’Água, que se apresenta na companhia de Primeira Dama com a Banda Xita. Como sempre, neste género de festival, em que o mais importante continua a ser música, o mais difícil é mesmo escolher.
NOS Primavera Sound > Parque da Cidade > Porto > 6-8 jun, qui-sáb 17h > €56 a €117 (passe)