Não é a primeira vez que Joan Jonas entra em Serralves, no Porto. Uma das suas obras fez parte de Circa 1968, a exposição que inaugurou o museu de arte contemporânea, em 1999. Na Coleção de Serralves estão também os vídeos Organic Honey’s Visual Telepathy. Mas este é um momento “verdadeiramente mágico”, considerou a artista visual norte-americana, prestes a fazer 82 anos, sobre a retrospectiva que o Museu de Serralves apresenta a partir deste sábado, 25. “De muitas formas, Joan Jonas representa os valores do museu. É uma das artistas que junta as várias disciplinas que trabalhamos na arte contemporânea: dança, storytelling, performance, música, literatura”, aponta Philippe Vergne, o recém-chegado diretor do museu, nesta que é a sua primeira inauguração.
A exposição ocupa seis salas, onde se apresentam seis obras imersivas completas, vários filmes, fotografias e objetos trazidos do seu atelier em Nova Iorque – máscaras, pedras, objetos, transformados, muitas vezes, pela artista, em personagens. O ponto de partida é Wind, o seu primeiro vídeo, feito em 1968, em que usa a linguagem do cinema: um filme mudo que inaugura também o espelho como adereço, central da sua obra.
No trabalho de Joan Jonas, instalação e performance andam sempre ligadas, antecedendo ou precedendo uma e outra. É uma artista em constante mutação. “Há desenhos que constrói enquanto faz a performance, que depois acrescenta na instalação. É um ser dinâmico, não é estático. Se daqui a algum tempo ela pensar nesta obra, poderá apresentá-la de uma outra forma, com mais elementos“, salienta Paula Fernandes, curadora da exposição, juntamente com Marta Almeida, diretora-adjunta do museu, e Andrea Lissoni, curador de arte da Tate Modern, em Londres, galeria que organiza a exposição em parceria com Serralves. “Esta exposição não é cronológica. A ideia foi mergulhar no mundo e no universo de Joan”, nota Andrea Lissoni.
A instalação Lines in The Sand, de 2002, é disso exemplo. “É uma subversão completa da história tradicional”, diz Paula Fernandes, aludindo ao poema da escritora americana Hilda Doolittle, que narra a Guerra de Tróia. “Ela transformou essa história antiga para a contemporaneidade, através da utilização do cenário de Las Vegas e com sons reais da Guerra do Golfo”, explica. O som é uma constante em todas as obras, que são quase sempre acompanhadas pela voz da própria Joan Jonas. Em outros casos, como em The Juniper Tree, originalmente de 1976 e reconstruída em 1994, a artista pega num conto e reconstrói a sua história – neste caso, a instalação parte do texto homónimo dos irmãos Grimm.
Já em Stream or River, Flight or Pattern, de 2016-17, a ocupar uma sala enorme pintada de vermelho, com pássaros de papel pendurados que Joan trouxe do Vietname, exibem-se imagens de Singapura, Génova e Canadá, ao mesmo tempo que se escutam pássaros, os grandes homenageados pela artista nesta instalação que foi apresentada pela primeira vez na Fundação Botín, em Santander, Espanha.
Joan Jonas > Museu de Arte Contemporânea de Serralves > R. D. João de Castro, 210, Porto > T. 22 615 6500 > 25 mai-1 set, seg-sex 10h-19h, sáb-dom 10h-20h > €12