Uma porta e uma grade como fundo são, ali, a metáfora para tudo. As personagens em palco encontram-se num estado de impasse entre a ação e a resignação. Em Quarto Minguante, atores, objetos cénicos e falas servem um fluxo, uma musicalidade da qual acaba por sobressair a ideia da inevitabilidade do conjunto, da comunhão.
“Em termos de escrita, havia um ponto de partida, muito teórico, que tinha que ver com o poder da imaginação nos impasses coletivos, no sentido de responder à pergunta ‘porque é que temos mais facilidade em visualizar o fim do mundo do que imaginarmos o fim do capitalismo?’. Como a imaginação é o nosso métier, quis começar por aí”, diz Joana Bértholo, que lançou em maio o romance Ecologia (Caminho). “Mas depois interessava–me a experiência teatral – a história, o drama –, como é que da escala filosófica se vai escalando até chegar às nossas vidas, aos nossos probleminhas, à dificuldade de sairmos dos nossos enredos; queria que a resistência à mudança viesse de lugares diferentes.” E a resposta ao motivo por que receamos mudar quando estamos mal é a óbvia: receamos o novo, o desconhecido.
“A Joana constrói o texto primeiro em Excel: cria colunas e cada coluna corresponde a uma destas famílias ou figuras. Faz lembrar uma partitura”, explica o encenador Álvaro Correia. As ações, que se vão repetindo e circulando por diferentes personagens, decorrem no seio de duas famílias e existe ainda um psicólogo, que funciona como uma espécie de consciência imanente. “Enquanto que no primeiro ciclo [de ações] há um aparelho de realismo, nem todas as situações são realistas; há disrupções constantes naquilo que aparentemente parece ser um diálogo banal, quotidiano.” O cenário, à semelhança dos corpos das personagens, vai também mirrando ao longo do espetáculo. Da dispersão, forma-se um amontoado esquizofrénico de objetos e pessoas. Como uma jangada à deriva.
Quarto Minguante > Teatro Nacional D. Maria II > Pç D. Pedro IV, Lisboa > T 21 325 0800 > 15 nov-16 dez > qua e sáb 19h30, qui-sex 21h30, dom 16h30 > €12