Uma vez por mês, desde outubro do ano passado, a série documental Vejam Bem tem vindo a contar a história de ilustres nomes da música portuguesa. Nas últimas semanas, os programas dedicados a Simone de Oliveira, Jorge Palma, Marco Paulo, Paulo de Carvalho, Lena d’Água, José Mário Branco e José Cid têm sido retransmitidos às quartas-feiras, ao serão. Este é um projeto da RTP Memória para dar uso ao arquivo do canal público. Tendo a música como fio condutor, Vejam Bem traça também o retrato da sociedade portuguesa. Mesmo quando as gerações dos músicos se sobrepõem, cada um acrescenta sempre algo de novo ao documento de uma época. Batizado com o nome de uma canção, cada episódio é contado na primeira pessoa, numa entrevista atual conduzida pelo jornalista Nuno Galopim. Esse depoimento é depois casado de forma magistral com imagens de atuações antigas, outras entrevistas e imagens perdidas num arquivo agora renascido para a música. “Um diálogo com as memórias”, descreve Nuno Galopim.
Aos 79 anos, é de espírito tranquilo que Carlos do Carmo se prepara “para fechar a loja com alguma dignidade”. “Fecha a porta, mas não a tranca”, conta Nuno Galopim. Até porque o cantor garante que se surgisse a hipótese de fazer um dueto com Tony Bennett, atirava-se de cabeça. Alfacinha de gema, fala da infância no bairro da Bica, dos colegas do Liceu Passos Manuel, a quem dizia que ouvia fado, gostava, mas não se atrevia a cantar, por ser filho de quem era: Lucília do Carmo. Em palco, Carlos do Carmo recebe as pessoas como se estivesse em casa.
Tem o à-vontade dos mestres, como ele chama a Frank Sinatra, com quem aprendeu a respirar, a dizer as palavras uma por uma e o que fazer com as mãos. Apresentou o programa Convívio Musical na RTP, em 1972, e, depois do 25 de Abril, chega a fase em que começa a ter quem quer escrever para ele. Participou no processo de candidatura do Fado a Património Cultural Imaterial da Humanidade, na conceção do Museu do Fado, em Lisboa, e no filme Fados, de Carlos Saura, prémio Goya antes do Grammy Latino de carreira, em 2014. Tudo isto ao som de Os Putos, Gaivota, Canoa ou Lisboa Menina e Moça, numa voz única. Comovente até ao fim.
Vejam Bem – Vim Para o Fado > Estreia 6 set, sex 23h45 > RTP1