É impossível apressar uma criança quando há animais embalsamados, instrumentos de física e química oitocentistas, estranhos objetos trazidos de expedições e ainda crânios esmagados, moedas, terços e outras relíquias que pertenciam a vítimas do terramoto de 1755. Até um adulto estaca frente aos modelos de anatomia humana em papier mâché, comprados em Paris,em meados do século XIX, na mesma casa de onde veio também por essa altura uma corvina que roda.
Estamos no rés do chão do edifício da Academia das Ciências e o peixe, enorme e de olhos esbugalhados, dá nas vistas numa das três salas do Museu Maynense, criado a partir do “gabinete de curiozidades” do frei Joseph Mayne (1723-1792). Quando assumiu o cargo de Geral da Congregação da Terceira Ordem da Penitência, este franciscano, que era confessor do rei D. Pedro III, gastou a herança numa escola dedicada ao ensino da História Natural. Queria “convencer os Atheistas, Pulitheistas e mais Incredulos” das maravilhas da Criação.
A Aula Maynense começaria no ano da sua morte, ali mesmo no Convento de Jesus, fechando portas há exatamente cem anos. O museu tal como o podemos visitar abriu em 2015, um quase segredo que se revela de segunda a sexta, das duas às cinco da tarde.