Caminho para a felicidade e a alegria? A esta altura o leitor da VISÃO já terá torcido o nariz, cansado que deve estar de tanta autoajuda. Mas é de filosofia que falamos, o que não quer dizer que não tenha nada que ver com a sua vida. Pelo contrário. Responder às grandes questões da Humanidade sempre foi missão de filósofos. E, há cerca de 400 anos, Espinosa revolucionava o pensamento ocidental. Lembrar a sua mensagem é tarefa a que, de tempos a tempos, se dedicam muitos pensadores. O francês Frédéric Lenoir fá-lo num livro inspirador. Os seus dois grandes méritos são estimular a leitura da obra do filósofo (missão bastante exigente) e seguir os seus ensinamentos (visão assaz desafiante).
Numa Europa dominada pelo fervor religioso, Espinosa dirigiu o olhar para a razão e para os desejos. Filhos que somos do Iluminismo e do triunfo da Ciência, talvez seja difícil perceber quão radical se revelou esta proposta. Para o exemplificar, basta dizer que Espinosa, que nasceu na Holanda em 1632, viria a morrer, 44 anos depois, banido da sua comunidade, com os livros proibidos (por católicos e judeus) e com um círculo muito restrito de amigos. Quando soube da sua morte, a irmã apressou-se a reclamar a herança. Mas viria a decliná-la: eram só dívidas. Para Espinosa, o mais importante é “não zombar, não lamentar-se, não detestar, mas compreender”. É procurar dentro de cada um de nós (parte finita de um cosmo maior a que chama Deus) o que ativa a nossa força. Em dois livros fundamentais, Tratado Teológico-Político e Ética, recusa a ideia de uma moral exterior (de uma religião, por exemplo). A diferença não está entre o bem e o mal, mas entre o bom e o mau. Iguais mas diferentes. E inteiramente livres. Eis o seu caminho para a felicidade e a alegria.