É uma carreira no mínimo singular a dos Flaming Lips, banda nascida no Oklahoma no início dos anos 80, que desde então tem vivido sempre no limite entre (quase) atingir os píncaros do sucesso ou resvalar pelo abismo do esquecimento. Como aconteceu nos anos 90, quando, em plena explosão do grunge, alguém se lembrou deles para os transformar na nova grande banda rock norte-americana – só que não. Ou quando, após anos de irrelevância, editaram The Soft Bulletin, nono álbum de originais, considerado um dos melhores de 1999, que finalmente lhes garantiu o reconhecimento da crítica e do público. Sucesso consolidado três anos depois com Yoshimi Battles the Pink Robots, disco que seria transformado em musical na Broadway.
Desde então, além de terem recebido três Grammy, os Flaming Lips já fizeram de tudo um pouco. Mesmo. De filmes de Natal a canções com 24 horas de duração, reinterpretações de álbuns clássicos (The Dark Side of the Moon e Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band) ou colaborações com artistas como Ke$ha e Miley Cirus. Tudo feito na mais total liberdade artística, o que ora resultou em momentos musicais grandiosos ora apenas levou ao limite a tolerância dos fãs mais fiéis. Poucas vezes, no entanto, se aproximaram tanto dos bons velhos tempos da viragem do século como agora, em King’s Mouth, mais um disco conceptual que conta a história de um rei-bebé, com uma cabeça gigantesca na qual se albergam galáxias.
Compreender-se-ia mais um revirar de olhos, mas o resultado é, no mínimo, surpreendente, com a banda a apresentar um conjunto de canções perfeitas, sob a forma de um opus psicadélico lo-fi, que tanto remete para o imaginário da ficção científica como para a fragilidade (e a grandiosidade) da condição humana – tema, aliás, recorrente na obra dos Flaming Lips. “Life is sometimes sad”, ouve-se em Giant Baby, lamento do rei-gigante ao recordar a morte da mãe, no momento do seu nascimento.