É um ato de generosidade, este de um compositor como Fernando Tordo, cuja obra se confunde com a história da música popular portuguesa das últimas décadas, partilhar os seus grandes clássicos com tantos músicos, deixando-os com rédea solta para os recriarem. A ideia de um disco de duetos já há muito que tilintava na cabeça de Fernando Tordo. No ano passado, festejou 70 anos de vida e meio século de carreira enquanto compositor (como músico já leva “uns quantos mais”) e sentiu que era a altura certa.
“Fiz questão de ir buscar o repertório que fez de mim a pessoa e o artista que sou”, disse-nos durante uma das sessões de gravação do disco, enquanto partilhava o estúdio com o “Jorge Manuel” – nome por que trata Jorge Palma há mais de 50 anos –, numa sentida e mesmo comovente versão de Cavalo à Solta. Nesse caso, partilhava o estúdio com um “velho amigo”, mas também há muitos novos. Como Rita Red Shoes com a lânguida interpretação de Nº 2 – 6º Andar Frente, Héber Marques a transformar em festa soul esse clássico maior que dá pelo nome de Adeus Tristeza, Ricardo Ribeiro, convocado para interpretar “um poema lindíssimo do Ary dos Santos, muito pouco conhecido”, chamado Se Te Digo Meu Amor ou ainda Carminho, para quem ficou reservada a Estrela da Tarde.
Da lista de convidados fazem ainda parte Maria João, Tim, Rui Veloso, Herman José, Camané, Marisa Liz, Anabela, Carlos Moisés, Raquel Tavares, Os Quatro e Meia ou Filipe Manzano Tordo, pianista clássico, filho de Fernando. O melhor exemplo da liberdade destes criadores na abordagem a estas canções é a surpreendente versão rap de Tourada, declamada a meias por Fernando e Capicua. Afinal, é mesmo assim que a memória coletiva também se renova.