Com o romance ‘As Oito Montanhas’, o escritor italiano Paulo Cognetti viu a sua prosa ser amplamente traduzida e chegar a mais de 30 países
Um daqueles livros que, virada a última página, deixam no leitor a impressão forte de uma paisagem e de um imaginário que perdurarão por muito tempo. Durante a leitura d’As Oito Montanhas volta-se às suas páginas como a um lugar. E isso, sobretudo, porque, num romance de personagens fortes e bem desenhadas, há uma que se destaca: a própria montanha, no Norte de Itália. Mesmo quando a ação se desvia momentaneamente para outros espaços, é sempre a montanha – inóspita lá no alto, junto dos glaciares; com água e árvores em cotas mais baixas – que dirige, ou suspende, a narrativa. Paolo Cognetti, escritor italiano de 39 anos – que com este romance viu a sua prosa ser amplamente traduzida e chegar a mais de 30 países – soube manter, da primeira à última página, sem quebras, um mesmo registo, um tom melancólico e observador que é o do protagonista e narrador, Pietro.
As Oito Montanhas conta a história de uma amizade ao longo dos tempos. A que une Pietro, com experiência da cidade e do mundo, e Bruno, verdadeiro “montanhês” que esteve “uma vez em Milão” (“– E como era Milão? – Bah! Demasiada gente.”). É uma amizade que se constrói sem a necessidade de muitas palavras, adjuvada pela montanha e que se consegue alimentar de silêncios. A obsessão do pai de Pietro (“Todo ele era obstinação e petulância”) pelos pontos mais altos, e sem vida aparente, da montanha marcará o destino dos dois amigos que dele herdam um desafio: recuperarem juntos uma casa em ruínas, acima de um lago, lá no alto, onde não chega nem a eletricidade nem os turistas. As “oito montanhas” do título nascem de uma parábola contada a Pietro por um velho sábio no Nepal: uma muito breve narrativa que acaba por iluminar e dar sentido a todas as outras páginas. Esta é uma leitura que pode abrir boas correntes de ar fresco em dias tórridos de verão.
As Oito Montanhas (Dom Quixote, 224 págs., €15,90), de Paolo Cognetti, foi um best-seller em Itália e é o primeiro livro do escritor italiano publicado em Portugal. Recentemente, recebeu o Strega, um dos mais importantes prémios literários italianos.
