Na montra, o aparador de Emmanuel Babled, designer francês que escolheu Lisboa para viver há três anos, seduz quem passa pelo número 79 da Rua do Alecrim. Beverly, em madeiras de zebrano, carvalho, pau-santo, nogueira e carvalho fumado, é uma das 12 peças da coleção de design contemporâneo, manufaturada nas oficinas da Fundação Ricardo Espírito Santo Silva (FRESS), no Largo das Portas do Sol, que vieram inaugurar a Manufactum, a nova loja da FRESS no Chiado. “Em Alfama, temos uma localização ótima, mas, do ponto de vista comercial, não é ali que passam os nossos clientes”, afirma Vanessa Salgado, administradora da fundação.
Em 80 m2 mostra-se agora um grande biombo lacado a ouro de 24 quilates e uma réplica da bonheur du jour do século XVIII – a escrivaninha de senhora passa por seis das 18 oficinas de artes tradicionais, ao longo de sete meses, e é uma espécie de Ferrari no catálogo de 800 peças que podem ser encomendadas. Ali está também o contador desenhado por Filipe Alarcão, a partir de um exemplar exposto no Museu de Artes Decorativas Portuguesas da FRESS. Um sistema de portas reversível permite “vestir” o móvel com duas decorações: uma geométrica e minimalista, outra mais figurativa, a recuperar um motivo floral encontrado em peças do espólio da FRESS. Do designer português, a trabalhar com a fundação desde 2012, há ainda dois móveis de gavetas (uma reedição comemorativa do 25º aniversário da Loja da Atalaia, de Manuel Reis) e uma secretária de parede e a respetiva cadeira. Através da parceria com a Associação Passa ao Futuro, chegou-se aos restantes designers. O francês Sam Baron, antigo diretor do Departamento de Design da Fabrica da Benetton, a viver entre Paris e Lisboa, encantou-se pela oficina de latoaria e criou três candeeiros. A holandesa Marre Moerel testou os limites da arte da gravação em couro também num candeeiro, e o português Marco Sousa Santos aplicou-a em duas peças: Cama de Ópio, uma estrutura em ferro lacado com tiras de couro entrelaçado, e Cadeira d’Areia, uma reinvenção da cadeira de praia clássica, não desmontável mas empilhável.
A FRESS não fecha a porta à colaboração com outros designers que queiram trabalhar com os mestres. E espera que a nova loja, assim como a linha de design contemporâneo, ajude na sustentabilidade financeira da instituição. Até porque ali há artigos para todos os bolsos (os preços começam nos €3): dos marcadores de livros aos porta-chaves, das escovas para fatos aos cadernos em papel marmoreado.
No Mercado de Artes e Ofícios da FRESS, no Bairro Alto, há cursos de curta duração, para aprender marcenaria, latoaria, douramento, passamanaria e a técnica do papel marmoreado, entre outras artes.
Manufactum by FRESS > R. do Alecrim, 79, Lisboa > T. 21 347 1887 > seg-sáb 10h-13h30, 14h30-19h