Inês Andrade conhece bem estas ruas. A presidente da Associação Renovar a Mouraria, que desenvolve há 11 anos um programa cultural e vários projetos de apoio à comunidade (jurídico, aprendizagem de português, aulas de estudo, entre outros), percebeu que a cafetaria na Mouradia – edifício reabilitado no Beco do Rosendo e face mais visível do trabalho desenvolvido pela associação – tinha cumprido o seu papel. “A dinâmica do bairro mudou, era preciso responder a outras necessidades, desde logo ao nível da sustentabilidade ambiental.”
Em outubro do ano passado, inaugurava a Mouraria Composta, uma loja-atelier onde é possível encontrar tudo o que é preciso para criar uma horta doméstica ou um jardim na varanda: terra, húmus, turfa, vasos e floreiras, utensílios, sementes. “Queremos recuperar o que se foi perdendo com estes hábitos de maior consumo. E fazer da Mouraria um exemplo de como, no centro da cidade, se pode ter um bairro mais verde, saudável e equilibrado.” Inês Andrade fala das sardinheiras à janela, dos vasinhos com salsa e coentros para temperar a comida, mas também da importância das joaninhas e das abelhas. Quem procura uma forma fácil de cultivar os seus verdes, encontra na loja os potes em cortiça da Life in a Bag (basta regar), e ainda detergentes ecológicos, feitos a partir de óleo alimentar reciclado, a granel; escovas de dentes e palhinhas em bambu; pratos, copos e talheres recicláveis para festas. Tudo de marcas portuguesas.
As mesas e bancadas, que mostram o que está à venda, são as mesmas que servem de apoio às oficinas (ao final do dia): legumes esquecidos na horta, sementeira de cravos, flores comestíveis, utilizações das urtigas na cozinha, microverdes e germinados, construção de ninhos para pássaros e hotéis para insetos, por exemplo. “Os temas resultam também de propostas e organizamos oficinas ligadas à reciclagem e ao consumo consciente”, explica Inês. E assim chegamos ao terceiro pilar do projeto. No Beco do Rosendo e na Cozinha Popular da Mouraria estão disponíveis dois compostores comunitários, “alimentados” por quem vive no bairro e pela Brigada dos Baldinhos, um grupo de voluntários que recolhe o desperdício alimentar (restos de frutas, legumes, cascas de ovos ou borras de café, por exemplo). O composto, rico em nutrientes, servirá depois para “alimentar” as sardinheiras e as ervas aromáticas que tanta falta fazem à janela do bairro.
Todos os meses, há um residente convidado na Mouraria Composta. Depois de Madalena Martins, que trouxe os seus candeeiros em materiais reciclados, seguiram-se os azulejos antigos da Cortiço &Netos. Em março, chega a Semear, com compotas, temperos e patés feitos por pessoas com doença mental.
Mouraria Composta > Beco do Rosendo, 8, Lisboa > T. 92 219 1892 > ter-sex 10h-19h, sáb 14h-19h