Azul, amarelo, verde, laranja e encarnado. As cores que nos habituámos a ver na roupa e nos acessórios da Benetton regressaram em força no primeiro desfile, de sempre, da marca italiana numa semana da moda. Quando na passada terça, 19, a coleção Rainbow Machine – a primeira desenhada pelo designer francês Jean-Charles de Castelbajac, o novo diretor criativo da United Colors of Benetton – se apresentou ao mundo num dos armazéns da Via Savona, em Milão, os modelos desfilaram com camisolas tricotadas, puffer jackets e coletes com riscas coloridas, calças e peças em denim com o ponto de malha (símbolo da Benetton) estampado, t-shirts e sweatshirts com o nome da marca mais visível do que nunca. E, ainda, várias propostas com imagens do Snoopy, Mickey e Bugs Bunny, o universo da banda desenhada reconhecível no trabalho de Castelbajac.
Depois de alguns anos sem o fulgor, a criatividade e a irreverência que apaixonou uma geração – e que fez da camisola de malha tricotada um símbolo de estilo –, a Benetton ganhou novo fôlego com o regresso de Luciano Benetton (um dos quatro irmãos que fundaram a marca, em 1965) aos comandos da empresa, no início do ano passado. Também Oliviero Toscani, responsável pelas emblemáticas campanhas publicitárias da marca, está de volta, mas é Castelbajac que dá os pozinhos de perlimpimpim. “No início do verão do ano passado, Toscani ligou-me a convidar para me encontrar com Luciano Benetton. Na conversa que tivemos, à volta de uma mesa redonda no seu jardim, percebemos que tínhamos a mesma visão sobre a moda, a paixão pelas malhas, pelas cores pop e as do arco-íris”, contou o diretor criativo.Da passarela para as lojas
No chão do backstage, uma linha contínua, feita com fita-cola branca, tem assinalada a ordem de entrada dos modelos, e nos charriots estão os looks, com a indicação do modelo que os há de vestir, um par de horas depois. É neste ambiente de pré-desfile que Castelbajac revela (parte) de seis meses de trabalho em Treviso, na região de Véneto, onde fica a sede da Benetton. Rainbow Machine, nome da coleção-cápsula, de edição limitada, é composta por t-shirts, peças em denim stretch, écharpes e sweatshirts (já à venda no site da marca e em algumas lojas selecionadas). Mais para frente, veremos o que mais andou a desenhar o diretor criativo, já que as propostas são para o próximo outono-inverno. “Quando cheguei, em setembro, e apesar da minha longa vida como designer, senti-me no paraíso, como se fosse o Charlie na Fábrica do Chocolate. Na Benetton, desenho uma peça de manhã e, à tarde, tenho-a na mão, e isso é um privilégio”, diz.
Percebe-se que este será um desfile especial quando Castelbajac faz referência à forma como se trabalha na empresa: “Aqui, as pessoas são como peças que se juntam para fazer algo positivo. Somos todos parte de uma mesma máquina, uma autêntica rainbow machine”, brinca. Foi, aliás, a partir desta relação que surgiu a ideia para a cenografia. “Pensei que podia criar uma catedral da indústria criativa, trazendo para a passarela a maquinaria com que trabalhamos em Treviso, assim como os próprios funcionários”, conta com entusiasmo. É neste ambiente de homenagem à produção industrial e ao savoir-faire da marca italiana que, às sete da tarde, a primeira coleção de Castelbajac para a Benetton ganha vida e volta a mostrar as suas raízes, ao som de uma eletrónica industrial, criada por Michel Gaubert (especialista em bandas sonoras para desfiles de moda). “Nos últimos anos, a marca aproximou-se da fast fashion, esquecendo-se do que era na sua origem. Uma casa de alta-costura acessível a todos. É isto que queremos fazer, utilizando a criatividade, a cor e a irreverência que fazem parte não só do seu ADN, como também do meu trabalho”, afirma o diretor criativo.
O resultado está agora à vista, e é irresistível para quem há muito ansiava pela Benetton de outros tempos. As peças de vestuário e acessórios, de homem e mulher, mais parecem um arco-íris, em tons que vão das cores primárias ao preto, usado em pequenos apontamentos, nos padrões às riscas ou xadrez. Não faltam as camisolas tricotadas, tingidas depois de produzidas, e as peças em que espreita um Charlie Brown ou um Bugs Bunny chamam a atenção. A irreverência e ousadia está nos cachecóis e casacos feitos a partir de bonecos em forma de ovelha. A fazer lembrar os tempos áureos da marca, “em que toda a gente tinha uma t-shirt ou uma camisola de malha da Benetton”, como disse Castelbajac. A VISÃO Se7e viajou a convite da United Colors of Benetton
Jean-Charles de Castelbajac
Em discurso direto
“Quando cheguei, em setembro, e apesar da minha longa vida como designer, senti-me no paraíso, como se fosse o Charlie na Fábrica do Chocolate. Na Benetton, desenho uma peça de manhã e, à tarde, tenho-a na mão, e isso é um privilégio”
“Nos últimos anos, a Benetton aproximou-se da fast fashion, esquecendo-se das suas raízes e do que era na sua origem. Uma casa de alta-costura, acessível a todos”
“Pensei que tudo seria acessível, até que desenhei um clássico da marca, o casaco Montgomery, que custará cerca de 300 euros. No dia seguinte, fiz uma t-shirt que vamos vender a nove euros”