Antes de entrarmos no novo restaurante do chefe Vítor Sobral, lançamos um olhar à manifestação pelo clima que está a formar-se, mesmo em frente, nas escadarias da Assembleia da Républica. Parece paradoxal que avancemos, sem problemas de consciência, para uma casa só de carne, algo que está mais do que provado que deve consumir-se com parcimónia, para não gastar ainda mais recursos ao planeta. Mas não é. Conhecemos de cor o discurso do chefe a este respeito e tendemos a concordar com ele. A carne não deve estar todos os dias à mesa e, quando está, terá de ser de qualidade. “As peças são todas visíveis, com o seu bilhete de identidade pendurado”, garante. Se o cliente quiser saber exatamente o que está a comer, basta pedir para ver, mas fica já a saber que é tudo português. E não há exclusões, como em algumas cantinas. Da lista, consta carne bovina, caprina, suína e aves. Só a caça fica de fora, porque não calha bem na grelha, que é como tudo se faz aqui. A cozinha, minimal e à vista, torna o produto rei. Apesar de tudo isto, e porque Vítor Sobral não está alheio ao movimento anticarne, criou dois pratos vegetarianos para a ementa, e muitas das entradas servem bem esse propósito, como os deliciosos cogumelos gratinados com puré de beringela que servem para nos abrir o apetite (€8,50).
As carnes dividem-se em fresca e maturada, com os preços a acompanharem os meses de conservação. Há peças de 45, 60 ou 200 dias. A arouquesa de 60 dias que provamos parece manteiga (€110/kg). Antes, estreámo-nos num bife do beijinho Black Angus nacional (€14), com pedaços de suculenta gordura que retiramos com a ajuda das facas Icel, feitas de propósito para esta Esquina. Tentamos acompanhar as fatias de carne mal passada apenas com uma salada de tomate (sem casca, claro!), mas as batatas fritas que entretanto vieram para a mesa têm dedo do diabo e, embora não estejam no prato, roubamo-las da travessa com muito maior frequência do que o desejado. Respiramos então de alívio quando constatamos que a sobremesa é baba-de-camelo, porque se trata de um doce que não nos encanta e o espaço cá dentro já não abunda. Por educação, decidimos prová-la e descobrimos uma leve mousse, que fica a milhas da pesada sobremesa que se serve por aí. O resultado foi vergonhoso: só faltou mesmo lambermos a taça.
Ao almoço, de terça a sexta, há pratos do dia, a 13 euros, que variam entre espetada à madeirense, costela de novilho, costeleta de porco ou arroz de pato.
Talho da Esquina > R. Correia Garção, Lisboa > T. 21 390 0997 > ter-sáb 12h30-15h30, 19h30-23h30; seg 19h30-23h30