Quando o chefe Leonel Pereira chegou ao São Gabriel, há sete anos, estava o restaurante sem a Estrela Michelin que o distinguia, desde longa data, por uma razão simples: tinha sido vendido e a direção anterior comunicou ao influente Guia que iam transformá-lo em churrasqueira. Não foi. No primeiro ano, Leonel manteve o estilo de cozinha, com a mesma base francesa e os seus pratos clássicos, e recuperou a Estrela, que mantém, tardando a segunda – dizem os clientes e nós confirmamos. No segundo ano, operou uma mudança profunda, que prossegue, no sentido da simplificação, da procura dos melhores produtos locais e da ligação à ciência (investigação conjunta com a Universidade do Algarve). Entretanto, as instalações também foram melhoradas: esplanada nova, logo em 2012; rearranjo da receção e da sala, no ano seguinte, preservando os toques de casa algarvia, com mais elegância e leveza; e mudança da garrafeira da cave, por baixo da cozinha, para um espaço nobre, bem visível, entre a receção e o bar. Também foi beneficiada a cozinha, que dispõe das máquinas mais sofisticadas. Mas o que a distingue são as mãos de Leonel Pereira, um algarvio nascido em Martim Longo para ser cozinheiro e espantar o mundo com os produtos da sua terra, como faz no São Gabriel.
Dois menus de degustação, Mar e Memórias de Viagens (só disponíveis por mesa, ambos com o preço de €135 por pessoa, sem vinhos), são as grandes referências da ementa, que tem mais oito entradas, quatro pratos de peixe, quatro de carne e cinco sobremesas além da indispensável seleção de queijos, no serviço à carta. No menu Mar, impera a criatividade e vigora a mudança em desafio a quem procura novidade, surpresa, divertimento e prazer; no Viagens, descobrem-se alguns clássicos do chefe, um ou outro também representado no serviço à carta, que é lugar dos pratos mais consensuais (menos ousados em termos de criatividade, sem deixarem de ser contemporâneos).
Respeitando a surpresa do menu Mar, levantamos uma ponta do véu do Viagens: a moqueca de pregado (o chefe andou pelo Brasil) não é decalque, mas tem sabor tão delicado e definido que lembra a da famosa Dadá, de Salvador, Bahia; o lagostim ligado ao caril panang de origem tailandesa, à base de coco, muito floral e suave, é um concerto em sol nascente; e a codorniz recheada com foie gras é do mais fino paladar (Leonel trabalhou em França com Ducasse, voilà!). Na carta reencontramos a sopa de camarão e caril, uma espécie de bisque cremosa e pura à base de suco de carabineiro; o risotto de lavagante com suflê de plâncton agrada de imediato e para sempre; o leitão assado, de raça bísara, com as carnes curadas e cozinhadas durante “30 horas”, em rolo, passando ainda pelo sauté e pelo forno, que lhes intensificam os sabores e as tornam tão diferentes como apetecíveis. As sobremesas dos menus são do chefe, as outras da pasteleira, todas excelentes, mas há que destacar o Branco & Preto, com musse de limão negro do Irão, gelado de ananás dos Açores fermentado e grelhado, no preto, e texturas de coco, no branco. Excelente garrafeira. Serviço atento e eficiente.
São Gabriel > Av. Almirante Cabeçadas, Almancil, Loulé > T. 289 394 521 > ter-dom 19h-23h > €90 (preço médio, à carta)