Há mudanças significativas na Taberna Ó Balcão, do chefe Rodrigo Castelo, em Santarém, que tem agora melhores comodidades e cozinha assumidamente ribatejana. Quando abriu, já lá vão cinco anos, no lugar de uma taberna antiga, cujos traços foram preservados, era um restaurante com ambiente descontraído e cozinha portuguesa com influência regional. Agora está mais intimista, confortável e vocacionado para a degustação e o prazer da mesa, com sabores tendencialmente só ribatejanos.
Ao entrar, mal se dá pelas alterações, vendo-se, como desde o início, a ementa inscrita numa grande ardósia pendente sobre a abertura da parede que separa a sala da cozinha; o pequeno balcão forrado a mosaico hidráulico (que é tão bonito e dá pena vê-lo caído em desuso!); as paredes com lambris de azulejos verdes e brancos; as mesas de madeira com tampos de mármore nu; as cadeiras e os bancos com formas e tamanhos diversos. Depois, repara-se no frigorífico de maturação de carnes, à entrada; no fumeiro exposto junto da salinha interior; na ausência dos dois televisores (que não faziam lá falta nenhuma); nos candeeiros rebaixados; nos assentos almofadados, e conclui-se: está mais agradável.
Mas o melhor é a cozinha de Rodrigo Castelo: imaginativa, bem elaborada, com originais combinações de ingredientes característicos do Ribatejo, parte deles inusuais, como os do rio: só nesta época, há camarinha, caranguejo, lagostim, achigã, barbo, enguia, fataça, lampreia e lúcio. Pode escolher-se à carta ou deixar a refeição nas mãos do chefe, optando pelos menus de onze (€50) ou de sete tempos (€35). As iguarias do menu mais extenso servem para compor o mais curto, em porções reforçadas para compensar a menor variedade, e também da carta, neste caso servidas como prato. Basta uma síntese do menu atual para ter ideia da gastronomia singular da Taberna Ó Balcão: após o couvert, com três variedades de pão e outras tantas pequenas iguarias que ficam na mesa até ao fim da refeição, vem o primeiro tempo com lúcio curado e um trio de língua de toiro, cecina (carne curada) e lombo, em pequenas doses de grandes novidades a suscitarem desejo. O segundo tempo tem meia dúzia de petiscos de comer à mão – caviar de ovas de barbo, coscorão do rio até ao mar, enguia à cagaréu, bucha de javali, ilhós de coelho e jardineira de caracoletas e barriga de vaca –, tão breves como agradáveis.
Os tempos seguintes são mais pausados, mas em boa cadência: sopa de peixe do rio, com ovas de barbo e lúcio curado; fataça, malhado de Alcobaça, noz e dióspiro, com peixe, porco e frutos em boa harmonia; lapardana com achigã grelhado, comida típica dos pescadores do rio, aqui com puré em vez de migas; lagostim do rio e torresmo de rissol, a convergirem nos sabores, divergindo nas texturas; lampreia da serra, pouco mais do que amostra, mas com sabor forte; pezinhos de coentrada, berbigão e pickle de pera, um mimo de terra e mar; cornos e tentáculos, um diálogo improvável, mas feliz, entre língua de toiro e tiras de lula. A concluir, dois tempos doces. Há surpresa, divertimento e bom gosto. A garrafeira reforça o espírito ribatejano reinante. O serviço contribui para o bem-estar.
Taberna Ó Balcão > R. Pedro de Santarém, 73, Santarém > T. 243 055 883 > seg-sáb 12h-15h, 19h30-23h > €25 (preço médio)