Quando o Sol nasce já há gente a trabalhar na cozinha panorâmica do Fifty Seconds, numa jornada que há de durar até à madrugada, na verdade, do dia seguinte. Têm sido assim as últimas semanas no restaurante da Torre Vasco da Gama – que deve o seu nome, Fifty Seconds (50 segundos), ao tempo que o elevador demora a subir até ao topo – dar tudo por tudo para afinar os detalhes, e são milhentos.
De pinça na mão, Sara dispõe meticulosamente, numa dezena de pratos brancos, as lâminas de espargos da salada de verduras, ervas e pétalas, brotes com puré de alface e lavagante – um prato com mais de 20 elementos, que o chefe basco Martín Berasategui criou há mais de 30 anos. Para montar cada salada de verduras, simplifique-se, são necessários 40 minutos. Na mesa, esse rigor será saboreado em cada pormenor, e passaremos a olhar para uma salada com outros olhos.
É preciso tempo para digerir a refeição no Fifty Seconds. E não estamos a falar só das horas de digestão. É preciso mesmo tempo para assimilar todo o requinte, sofisticação, inovação, originalidade e sabor em catadupa, que acabou de passar pela mesa. A 120 metros de altura e com uma vista soberba para um rio Tejo, que alcança também o mar da Palha, nada foi deixado ao acaso num restaurante de luxo, é verdade, construído da cozinha para a sala, com a lotação máxima de 35 lugares.
Filipe Carvalho, braço-direito de Berasategui em Lisboa e líder de uma equipa de 22 pessoas, pensou em todos os pormenores funcionais: fornos em pedra, onde é feito o pão da forma mais tradicional possível, com massa-mãe e farinhas moídas pela Gleba; uma zona só para trabalhar o chocolate e um congelador que chega aos 60 graus negativos para preservar algum marisco fresco ou barriga de atum. Na sala, em tons de cobre e azul-marinho, tudo foi desenhado em exclusivo, desde os baldes de gelo, candeeiros, cadeiras, bandejas, talheres de prata até aos copos Zwiesel. Só o serviço de louça usado para cada pessoa que escolhe o menu degustação ronda os 2 500 euros. Mas o maior luxo serão mesmo os ingredientes escolhidos a dedo pela origem, na sua maioria, portuguesa, e a qualidade que conferem em combinações, por vezes improváveis, pelo menos para o comum dos mortais. “Vamos usar produtos da época, com o ponto de maturação certo, relação preço-qualidade equilibrada e, em termos de sabor, o melhor que o cliente pode experimentar”, explica Filipe, antes de começar o serviço. Exemplos como o mil-folhas caramelizado de foie gras, maçã verde e enguia fumada (de Aveiro), um ex-líbris de Berasategui, e a gema de ovo em carbonara de ervas, lâminas de beterraba e carpaccio de papada de porco deixam-nos de queixo caído. Não fossem os pratos tão elegantes – a ostra com sumo de azeitonas verdes, emulsão de wasabi e crocante de algas, é disso um bom exemplo –, e dava vontade de comer tudo de olhos fechados para desfrutá-los na plenitude. À medida que o menu avança, vamos compreendendo melhor o que Filipe Carvalho nos disse na cozinha: “Ao empratar, ao provar e enviar para a mesa com amor, quero que o cliente seja tão ou mais feliz do que eu com esta experiência.” Nós fomos. Há, sem dúvida, um antes e um depois de visitar o Fifty Seconds.
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Fifty Seconds > Torre Vasco da Gama, Hotel Myriad, Pq. das Nações, Lisboa > T. 21 152 5380 > ter-sáb 12h30-15h, 19h30-23h > menu Fifty Seconds (€120), menu Degustação (€160), sem bebidas > pagamento no ato de reserva, taxa de cancelamento €60