Um elefante recém-nascido com orelhas comicamente grandes é afastado da mãe e marginalizado pelo mundo do circo. Setenta e oito anos depois, a premissa de Dumbo não mudou. A versão que a Disney traz agora aos cinemas parte do mesmo ponto, com uns pozinhos de 2019. Ao contrário do original, os animais não falam e cedem aos humanos a responsabilidade de carregar o plano narrativo, que, entretanto, ganhou uns quantos quilos. É que a primeira versão do filme (de 1941) tinha pouco mais de uma hora, enquanto este remake se prolonga por quase duas horas. Desapareceu o ratinho confidente e, com ele, as elefantes alcoviteiras; no seu lugar, surge a família circense Farrier, com duas crianças órfãs de mãe e um pai regressado da guerra sem um braço. A troca de animais por humanos dá-nos alguns bons momentos – sempre que Danny DeVito está no ecrã –, mas não beneficiou muito o filme. É difícil querermos saber dos Farrier, nós queremos é ver o elefante voar. E na nova versão esse desejo é satisfeito logo nos primeiros minutos.
O tempo extra serviu para transmitir algumas mensagens políticas pouco em voga nos anos 40. Em entrevista ao Los Angeles Times, o realizador, Tim Burton, reconhece que nunca gostou de circo. “Há animais a serem torturados, números que desafiam a morte e palhaços. O que há para gostar?” Nota-se. O filme tem várias referências pouco subtis a direitos dos animais. No original, Dumbo acaba como estrela do circo. Sem “spoilar”, podemos dizer que não é assim que termina este. O vilão, interpretado pelo ex-Batman Michael Keaton, é dono de um império de entretenimento que é muito difícil não achar parecido com a própria Disney. A fita é de Tim Burton, sim, mas não se espere uma versão gótica, com criaturas grotescas e um Johnny Depp montado em cima de um elefante voador… É um filme Disney, para levar os miúdos no fim de semana, e faz parte da nova vaga de remakes em live-action com a sua marca – A Bela e o Monstro e O Livro da Selva já se estrearam; nos próximos meses chegam Aladino e um muito aguardado Rei Leão. No caso de Dumbo, apesar de todas as mudanças, ele mantém o coração do original: uma história de superação sobre o que é ser diferente e marginalizado. Tente não se comover de cada vez que ele bate as orelhas. Acha que consegue? Só quando os elefantes voarem.
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Dumbo > De Tim Burton, com Colin Farrell, Michael Keaton, Danny DeVito e Eva Green > 112 minutos