Conhecida por ser a capital do jogo e dos casinos, aquela cidade americana tinha um casal a trocar alianças a cada cinco minutos – pelo menos, foi o que vimos nos filmes anos a fio sobre casais românticos e impulsivos àquela que chamaram também a capital mundial dos casamentos. Qualquer coisa como 90 capelas usadas com o mesmo fim, quase ao minuto. Só que há meses que a famosa Little White Chapel está para venda e não aparece nenhum comprador. O reino do kitsch arrisca-se a ser vítima do seu próprio slogan: “o que acontece em Vegas fica em Vegas”.
Ou talvez não. É no Las Vegas Boulevard, aninhado entre um motel e um estúdio de tatuagem, que fica o que pode ser o local de casamento mais famoso do mundo: A Little White Wedding Chapel. Mas os dias não têm sido fáceis desde que a mais populosa cidade do Nevada conheceu taxas de desemprego de 14%, como aconteceu no pós-crise financeira. O estado americano que mais crescera até então conseguiu baixar aquele valor até aos 4%, mas não parece ser suficiente.
A famosa capela está desde abril no mercado e, conta o The New York Times, a verdade é aquela indústria já não é o que costumava ser: ou seja, apesar de o turismo de casamentos na cidade ter gerado algo como €2,2 mil milhões só no ano passado, será qualquer coisa como mil milhões a menos da receita a que a maioria estava habituada nos tempos verdadeiramente áureos.
Mas neste cenário em que o lugar mais icónico da cidade está à venda e se vive o auge do kitsch, ao mesmo tempo em que cada vez menos pessoas perseguem esse sonho de casar em Las Vegas, deixa muitos com uma dúvida: será que uma indústria do passado pode florescer no futuro?
A indústria do turismo é a primeira interessada em virar o cenário ao contrário, novamente, mesmo que o número de casamentos esteja a diminuir drasticamente.
Hoje em dia, o número de casamentos nas capelas está a diminuir, mas as cerimónias de renovação foram comercializadas de forma agressiva pela indústria do turismo. E toda a oferta alargada se mantém. Por exemplo, no Viva Las Vegas, os sinos tocam quando se entra. Em breve, um rosto sorridente perguntará sobre o seu tema de preferência. E há as mais diversas opções, seja egípcio, havaiano, de Harley-Davidson ou num cenário intergaláctico. Gótico também é dos temas mais populares. Há até aquela proposta de um vigário a emergir de um caixão para dirigir a cerimónia numa capela inundada de nevoeiro e lápides.
No Viva Las Vegas, que faz entre 2500 a 25 mil casamentos por ano, o dono já apareceu vestido de Elvis – assumidamente o mais popular – mas também de James Bond ou vestido à imagem do padrinho ou da própria morte. “Que mais se pode querer?”, pergunta ele, antes de recordar que as mais diversas estrelas como a atriz Judy Garland ou o atleta Michael Jordan também casaram por ali.
Assim a aposta tem sido mudar o foco: se os millenials não se querem casar, porque não convencer antes a geração Z a fazê-lo? Ou então os mais velhos a fazê-lo novamente? “As pessoas hão de querer fazer algo divertido pela segunda vez”, opina o dono de outra capela.
Por ali há até a outra Graceland – a original é a mansão em Memphis, no Tennessee, que foi propriedade de Elvis Presley. Dee Dee Duffy, 55 anos, a proprietária, garante que por ali só não fazem casamento de zombies. A seu lado, Rod Musum, 52, o vice da casa, garante que eles é que se lembraram de oferecer Elvis como tema de casamento. “Temos uma das capelas mais pitorescas”, disse. “Além disso, sabemos qual é o nosso nicho e em que somos bons”.
Há outros apostados nessa mudança. Veja-se a Little Church of the West, onde atrás de candelabros há câmaras escondidas para a cerimónia ser transmitida ao vivo – a fórmula que aquela empresa encontrou para preservar o seu modelo tradicional ao mesmo tempo que se adapta à procura dos tempos modernos.
Mas além de incorporar tecnologia de ponta, aquela “pequena igreja do ocidente” está também a fazer progressos para atender melhor os casais internacionais. “Só o facto de disponibilizar a informação no site em diversas línguas já ajudou imenso”, conta Dennis Vallance, o diretor de operações do espaço, ao mesmo tempo que replica: “Querem saber qual é o futuro do negócio dos casamentos? É ouvir as noivas e ser recetivo ao que elas querem…”, remata.