Há sete anos, uma caixa com 12 crânios humanos e um esqueleto de hiena chegou à porta de Henry Scragg, em Essex, Inglaterra. O jardineiro de 28 anos, que colecionava e acumulava uma data de esquisitices há vários anos, deparara-se com aquela coleção na semana anterior, enquanto navegava pelo eBay. Fez uma oferta e ganhou.
Nunca tendo possuído restos humanos antes, Scragg desempacotou a entrega com algum nervosismo. Mas, quando se viu com os crânios na mão, ficou impressionadíssimo com a beleza dos dentes e as cavernosas cavidades oculares, completamente desprovidas de vida. Organizou-os, tirou algumas fotos e carregou-as no Instagram, adicionando hashtags como #skull # skeleton #curiosity (crânio, esqueleto e curiosidade, em inglês).
Não demorou para que Scragg fosse inundado com mensagens de pessoas a oferecer-se para comprar aqueles exemplares macabros. “Não esperava nada disto, mas é óbvio que as pessoas continuam a querer o que não têm”. Nos meses seguintes, vendeu algumas unidades. Com o dinheiro que ganhou, comprou mais e colocou-os novamente à venda.
Hoje, a conta de Scragg no Instagram tem mais de 30 mil seguidores e uma pequena mas (muito) ativa rede de compradores e vendedores que trocam restos humanos no Instagram. A maioria são ávidos colecionadores, que olham para a acumulação de ossos raros como um passatempo legítimo.
Outros, no entanto, consideram que é mais do que um mero sinal de excentricidade, sobretudo quando os utilizadores agarram em crânios humanos e lhe dão uma aparência – falsa – de um vestígio tribal. Arqueólogo e historiadores que já se depararam com este comércio temem que possa reabrir feridas, sobretudo no momento em que há museus num processo de descolonização, como quem diz, a devolver as peças trazidas durante os períodos de ocupação.
A venda destes “artigos” na rede de partilha de fotos funciona de maneira semelhante a outros negócios informais. Um utilizador postará uma imagem de, digamos, uma caveira e oferecerá um preço na secção de comentários abaixo. Em seguida, os interessados apresentam-se numa mensagem privada e, acordado o preço, pagam diretamente ao vendedor, que embala e envia a mercadoria.
É um comércio sombrio que há anos chamou a atenção dos arqueólogos Damien Huffer e Shawn Graham, a pesquisar e analisar milhares de posts de restos humanos naquela plataforma. E se, em 2013, quando começaram a rastrear estas contas, as vendas totalizavam apenas cerca de 4500 euros, três anos depois o número já estava acima dos 50 mil euros. Hoje, adianta Huffer, será certamente um valor bem superior. Aliás, muitos vendedores nem anunciam preços para as suas mercadorias: preferem esperar por ofertas e negociar diretamente. Haverá, assegura Huffer, citado pela Wired, alguns itens a ser vendidos por perto de 18 mil euros.
Além disso, e ao contrário de outros mercados ilícitos no Instagram – como é o caso dos animais exóticos, antiguidades saqueadas e armas, por exemplo – não há nada explicitamente ilegal sobre o comércio de restos humanos na plataforma. E embora a exibição de restos humanos exija uma licença da Human Tissues Authority, esse não é o caso quando se trata de postar fotos deles online.